domingo, 24 de julho de 2016

O Herói Na Filosofia Clássica * Antonio Cabral Filho - RJ

O Herói Na Filosofia Clássica /
Oficina Jornada Do Herói nº 1


O Herói Na Filosofia Clássica - Oficina Jornada do Herói nº 1

 A palestra é muito interessante, pois a palestrante tem o cuidado de segurar a sua abordagem no estrito limite da clarificação do papel do herói no contexto daquelas culturas de antanho. Seu grande feito é esse. Em momento nenhum ela se permite resvalar para os valores contemporâneos, trazendo os heróis  que aborda para uma acareação com os  valores atuais.

Nesse sentido, ela tem absoluto sucesso. Mas quanto à própria filosofia clássica, toda ela traçada sobre os mitos, assentada sobre uma plêiade de heróis, tudo preso aos feitos e suas interpretações dadas e acabadas, é que reside o problema. Do mesmo modo que essa filosofia clássica propõe a Vida, naquelas circunstâncias, em um mundo limitado a meia dúzia de quilômetros de Grécia ou Roma, ou à Índia dos Mahatmas ou a China dos Budas, quiçá uma África de deuses de pedra, não tem sentido nos propormos a fazer predileções, até porque trata-se de um mundo completamente ausente da Vida hodierna. Seus postulados são "idealizados" e não possuem vínculos com a Vida Real. Por isso, vivem no mudo d'antanho.

Essa filosofia clássica serve pouco ou nada além dos contos de fadas ilusionistas, algo distante inclusive de boa parte dos herois de história em quadrinhos  contemporâneos e leva os seus passageiros direto ao "mundo da lua", com verdadeiras adbuções. Temos verificado nas últimas décadas o surgimento de seitas calcadas em concepções tão abstratas que chegam a causar problemas governamentais. Uma delas, muito forte no Brasil, é o Santo Daime, que propõe uma purificação através da meditação seguida do consumo de chás altamente alucinógenos. Isso tem causado mortes e distúrbios mentais o suficiente para chamar a atenção das autoridades ligadas ao combate às drogas. Não faz muito tempo perdemos o cartunista Glauco Vilas Boas, vítima desse tipo de conflito.

Bom, feita esta preleção, gostaria de expor o modo como trabalho a questão dos mitos na minha produção literária. Tanto em poesia como em prosa, gosto de transformá-los em suporte de argumentos. Nunca como desfechos, mas apenas como coadjuvantes de segundo ou terceiro plano. Faço isso por acreditar no papel negativo que os heróis, os mitos e as ideias abstratas exercem sobre as pessoas, principalmente naquelas em que a personalidade se encontra ainda tenra. É o caso das crianças, dos jovens e das pessoas com nenhum ou pouquíssimo acesso aos meios de informação.

Não diria que escrevo para "formar" ninguém; nada desse papo de "fazer a cabeça", doutrinar, tão em voga nestes tempos "interinos" em que vivemos. Mas se eu puder fazer algo para que as pessoas vivam da pura realidade, sem fazer da fantasia uma alienação, não economizarei recursos. É nesse sentido que os meus personagens são operários, meninos de rua, corruptos, milicianos, criminosos, políticos, prostitutas, mulheres donas dos seus narizes, meninas abusadas, enfim, pessoas com os pés na realidade, contraditórias ou não.

O meu comentário não poderia ser feito de modo parcial, como precisa ser feito pelos estudantes em busca de nota. Ao contrário. Vou pra cima do tema e o trago para uma discussão elucidadora, de modo a contribuir para uma compreensão crítica, sem atrelá-la a nenhuma concepção filosófica nem ideológica.  A imparcialidade é nosso melhor caminho rumo à clareza sobre as coisas.

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