domingo, 5 de junho de 2016

Cotidiano Carioca - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

Cotidiano Carioca
- Parte da capa do Jornal do Recreio -
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Cotidiano Carioca - Cônica

Existem dois Rios de Janeiro: o anterior ao Repórter Genilson Araújo e o pós. Essa é uma realidade tão cruel que quando qualquer carioca aficcionado à informação quente sobre a cidade deseja saber das últimas, busca logo a estação na qual ele atua.

Às vezes estamos subindo a “Brasil” e notamos que o trânsito está muito lento, se arrastando rumo à Baixada, naquele ritmo tartaruga, e ligamos o rádio, exatamente na estação em que atua o Repórter Aéreo Genilson Araújo e mais do que rápido recebemos as notícias de como está a situação, seja do trânsito seja da cidade, se houve um acidente ou um confronto polícia - bandido em algum lugar da nossa rota.

Às vezes há um nevoeiro baixo, na primeira parte da manhã, daqueles bem densos, que retêm motoristas de todo tipo, e a cidade vira um caos sob águas, que na maioria das vezes gera um dos maiores transtornos das nossas manhãs. Mas o carioca liga o rádio e recebe a notícia quentinha com uma voz satisfeita, às vezes alegre, que lhe explica as razões do nevoeiro e até como será o seu dia, se terá um raiozinho de sol, tempo nublado ou tempestade. Aí, a maioria dos cariocas saem para o trabalho com aquela sensação confiante, pois foi o Genilson Araújo quem disse, lá dos altos do seu helicóptero da rede tantantam...

Esse repórter aéreo já saiu do anonimato tipo “invisível”. Genilson Araújo, hoje, se for à padaria da esquina de alguma rua da Freguesia em Jacarepaguá, comprar o seu pão para o desjejum, certamente receberá beijos das suas vizinhas e abraços dos mais desvairados tipos, como daqueles vizinhos doublê de “Beijoqueiro” que desejam “aparecer” como amigo do maior profissional de imprensa da nossa cidade; e digo isso sem ofender a ninguém, pois estou falando de um tipo novo de jornalismo, jornalismo quente, em cima do fato, pois o trabalho do Genilson Araújo não é do tipo tradicional, sentadinho numa cadeira, com um laptop à sua frente, digitando, pensando, elaborando frases de efeito, buscando ser ilustre etc. Não. O trabalho dele é embrenhar-se no espaço aéreo da cidade e ir rasgando nuvens até aonde esteja a novidade, e, circulando o seu “Pavão Misterioso”, observa tudo lá embaixo e transmite in loco para os seus ouvintes de plantão ao pé do rádio.

Isso veio se prolongando através dos anos, nos acostumando com a sua linguagem, com o seu estilo altissonante de comunicar os fatos. Mas até então conhecíamos um Genilson Araújo virtual, sem a escultura da forma humana, sem rosto, sem imagem que pudesse nos mostrar quem era a persona, sem um perfil físico daquela personalidade, até que um programa de TV matutino, desses cheios de informesinhos adocicados de toda manhã decidiu chamá-lo para dar um tom mais consistente ao mesmo, e eis que surge diante de nós esse caboclo sorridente, parrudo, afável até no visual, ostentando sua calvície “tipo calo de coxa” e toma conta da audiência. É claro que resultou num tremendo enriquecimento de nosso desjejum informativo.
Infelizmente, não posso dar-me o desprazer de promover uma rede de comunicação inimiga do meu país, a serviço de interesses escusos, mas ela é conhecida pelo barulho de sua vinheta e faz um som parecido com plimplim, e o nome do referido programa seria algo como um cumprimento à cidade na primeira parte do dia.

Quero encerrar minhas digressões sobre o repórter aéreo carioca Genilson Araújo externando a minha satisfação com a grandeza com que realiza o seu trabalho jornalístico, com a energia com que se dedica – ainda – a dar aulas de jornalismo há dezessete anos numa universidade local, com a sua desenvoltura em encontrar tempo para expressar-se por inteiro escrevendo livro sobre sua experiência, enfim, em se dispor a dar entrevista a humildes jornais de bairro, como fez recentemente com o Jornal do Recreio edição número 73 e pelo brilhante trabalho fotográfico que já realizou durante seus vôos cotidianos.
De todas as suas fotos que conheço, a que mais me emociona é esta:
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