A ILHA DO PÔR DO SOL
Eduardo da Silva Madalena
Rio de Janeiro 2014
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Neste domingo de carnaval, 02 de março de 2014, eu não fui à missa com minha mulher, coisa que raramente faço. Devido à garganta do Gabriel, meu neto, fiquei em casa, feicebuquiei um pouco, tomei café à vontade, vi desenho com ele enquanto tomava a dedela; enfim, foi uma manhã maravilhosa.
Às onze horas Rose chegou. Como sempre, cheia de histórias pra contar. Por exemplo, para ela é a maior novidade quando vem um padre diferente celebrar a missa. Ela acha demais, fica toda em polvorosa, parece até que chegou um astro pop na igreja. Está toda empolgada com a indicação do Orani João Tempesta para cardeal, que pra mim, é só "jogo do populista católico argentino". Mas se a liturgia passar lá pelas bandas da luta de classes, ela aperta meu braço e diz "esse é companheiro!" Não sai pra ir embora enquanto não falar com cada uma das conhecidas, das primas, das tias e que tais. Nessas ocasiões, eu fico de braços cruzados olhando a aflição dela e, quando termina, eu ergo a mão e dou um tchau bem longo pra todo mundo e sumo.
Mas hoje foi diferente. É que além desse cardápio todo, a novidade estava lá fora, na porta da igreja. Entre tanta gente vendendo alguma coisa, excursionistas chamando para os passeios, artesãos vendendo camisas estampadas, salgadistas, doceiros, havia um senhor claro, de uns setenta anos presumíveis, segundo ela, distribuindo livros. É meu amigo! Distribuindo livros! Fantástico, não é?! Pois é, ela diz que ainda perguntou pra ele quanto era, qual o preço, mas diz que ele respondeu que era grátis! Ela guardou o livro na bolsa e trouxe pra casa, não sem antes ler, pelo menos, o primeiro capítulo; que diz o seguinte:
"
Esta é a história de uma mãe, que mesmo depois de falecida, ainda vem se sentar na beira da cama de um dos filhos, preocupada com o destino deles. Ela narra toda a trajetória da saída deles até chegar na Ilha do Pôr do Sol, e o menino ouvia com muita atenção e guardava tudo na memória. O menino se levanta, vai até à cama do irmão Leo e diz:
- Leo, Leo, acorda, nossa mãe veio me ver hoje e disse que nós temos que ir embora daqui, porque nosso destino é incerto, nosso pai está bebendo cada vez mais desde que mamãe faleceu, ela disse para irmos para a casa da vovó na Ilha do Pôr do Sol que fica muito longe daqui, mas eu tenho todo o nosso trajeto guardado na mente, então pega as tuas coisas e vamos embora.
Pegamos o barco que ela falou, chegamos à Ilha do Mar Verde e depois partimos para a Ilha do Pôr do Sol. Chegando lá, subimos ladeira acima até à casa da vovó Zefinha, foi muita alegria na chegada e muita tristeza na partida com a morte da vovó. São coisas que marcaram nossa infância, foi uma odisséia de realidade e imaginação. espero que tenham gostado e agradeço. As personagens dessa história existem, Leo, Duda, Mag mas estão com mais de setenta anos e é uma história quase real.
espero que gostem desta odisséia e agradeço a quem ler, aIlha do Pôr do Sol existe, só não com esse nome."
Bom, o Autor não fornece dados biográficos nenhum. Só o livro,
com referência a outro livro
DORMINDO COM GENERALLI
Eduardo da Silva Madalena,
mas fica aqui o registro desse momento fugaz, do encontro de um escritor com a esposa de outro escritor, nesta manhã de domingo de carnaval.
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