segunda-feira, 13 de junho de 2016

Réi Da Traíra - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

Réi da Traíra


Conheci hoje o mais novo morador do Méier. É um angolano de meia idade com curso superior em agronomia feito em Cuba. Veio parar no Brasil atraído pelo crescimento do emprego no setor do agronegócio brasileiro. Seu contato com tudo isso se deu através dos acordos bilaterais Angola-Cuba-Brasil, que a oposição golpista brasileira chama de Conexão Comunista Dilma-Fidel. Está morando num cortiço típico da periferia carioca, um daqueles casarões antigos, com alguma característica de moradia digna, mas que no fundo-no fundo, era casa de capataz com porão para escravos. Segundo ele, um dos cantos do porão foi transformado em banheiro, para uso coletivo e que se você quiser levar uma “companhéra”, pode sofrer constrangimento.

Bom, cheguei a “tudo isso” porque após descer do ônibus na Rua Guilhermina, parei em um bar, cujo nome pareceu-me Bar do Tchuck, aquele boneco assassino, e perguntei onde ficava um restaurante muito famoso no bairro especializado em camarão e ouvi a expressão o “réi da traíra?”, notando logo se tratar de algum africano das ex colônias portuguesas, e ao fitá-lo, agradeci e puxei conversa. Nosso papo se prolongou sobre Angola, Agostinho Neto – que era médico e cuidou dele e de sua família no meio da guerra de libertação, de Fidel – que ele considera seu segundo pai, por ter trazido ele e centenas de outros angolanos ainda adolescentes para Cuba, posto em escola tipo internato, dado estudo e formação superior, capacitando-o a concorrer no mercado de trabalho em qualquer lugar do mundo, Dilma e o golpe, golpe de assaltantes, segundo ele, que não vê nisso mais do que um assalto típico de marginais à caça de prendas.

 Mas ao lhe indagar sobre o referido restaurante, tive uma incrível surpresa: ele sabia coisas sobre o restaurante além do que apenas como uma casa onde se servia iguarias da água doce. E começou a desfolhar a sua história. Disse que, segundo informa o noticiário carioca de 2007,  o fundador do “réi da traíra” chamava-se Chico da Silva Nunes, era um português, viera para o Brasil há 50 anos, tinha 75 de idade, nascera em Santa Maria da Feira, Portugal, fora sapateiro e dono de oficina, que há 25 anos entrara para o ramo de restaurantes, abrindo a casa rei da traíra na Praia da Pica, Ilha do Governador,  vindo a se tornar referência no segmento, que ficara viúvo há oito anos e tinha um filho adotivo, chamado tonho forjado,  seu algoz. Segundo o mais novo morador do Méier, quem está se deliciando agora com uma iguaria dessa casa, na “verdade está a alimentar  um assassêino”, que jamais fez jus a vida que seu pai adotivo lhe concedera.

Ele fez essas considerações e sacou de uma revista do jornal que diz no seu epíteto ser “o maior jornal do país” um laptop, abriu e forneceu-me os links a seguir:
1 – 
O Dia
http://odia.ig.com.br/portal/rio/empres%C3%A1rio-%C3%A9-preso-por-matar-o-pr%C3%B3prio-pai-1.231144 
&
O Globo
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/07/dono-do-rei-do-bacalhau-e-transferido-para-polinter-e-diz-ser-inocente.html 
&
JUSBRASIL
http://tj-rj.jusbrasil.com.br/noticias/2644434/filho-do-rei-do-bacalhau-e-seu-comparsa-irao-a-juri-popular
&
Diário de Notícias - Portugal
http://www.dn.pt/arquivo/2007/interior/rei-do-bacalhau-morto-no-rio-de-janeiro-984832.html 

Foi a partir destas fontes que eu pude entender o que ele queria informar e ao cabo das contas, concordo com ele.
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