Réi da Traíra
Conheci hoje o mais novo morador do Méier. É um angolano de meia idade
com curso superior em agronomia feito em Cuba. Veio parar no Brasil atraído
pelo crescimento do emprego no setor do agronegócio brasileiro. Seu contato com
tudo isso se deu através dos acordos bilaterais Angola-Cuba-Brasil, que a
oposição golpista brasileira chama de Conexão Comunista Dilma-Fidel. Está
morando num cortiço típico da periferia carioca, um daqueles casarões antigos,
com alguma característica de moradia digna, mas que no fundo-no fundo, era casa
de capataz com porão para escravos. Segundo ele, um dos cantos do porão foi
transformado em banheiro, para uso coletivo e que se você quiser levar uma
“companhéra”, pode sofrer constrangimento.
Bom, cheguei a “tudo isso” porque após descer do ônibus na Rua
Guilhermina, parei em um bar, cujo nome pareceu-me Bar do Tchuck, aquele boneco
assassino, e perguntei onde ficava um restaurante muito famoso no bairro
especializado em camarão e ouvi a expressão o “réi da traíra?”, notando logo se
tratar de algum africano das ex colônias portuguesas, e ao fitá-lo, agradeci e
puxei conversa. Nosso papo se prolongou sobre Angola, Agostinho Neto – que era
médico e cuidou dele e de sua família no meio da guerra de libertação, de Fidel
– que ele considera seu segundo pai, por ter trazido ele e centenas de outros
angolanos ainda adolescentes para Cuba, posto em escola tipo internato, dado
estudo e formação superior, capacitando-o a concorrer no mercado de trabalho em
qualquer lugar do mundo, Dilma e o golpe, golpe de assaltantes, segundo ele,
que não vê nisso mais do que um assalto típico de marginais à caça de prendas.
Mas ao lhe indagar sobre o
referido restaurante, tive uma incrível surpresa: ele sabia coisas sobre o
restaurante além do que apenas como uma casa onde se servia iguarias da água
doce. E começou a desfolhar a sua história. Disse que, segundo informa o
noticiário carioca de 2007, o fundador
do “réi da traíra” chamava-se Chico da Silva Nunes, era um português, viera
para o Brasil há 50 anos, tinha 75 de idade, nascera em Santa Maria da Feira, Portugal,
fora sapateiro e dono de oficina, que há 25 anos entrara para o ramo de
restaurantes, abrindo a casa rei da traíra na Praia da Pica, Ilha do
Governador, vindo a se tornar referência
no segmento, que ficara viúvo há oito anos e tinha um filho adotivo, chamado
tonho forjado, seu algoz. Segundo o mais
novo morador do Méier, quem está se deliciando agora com uma iguaria dessa
casa, na “verdade está a alimentar um assassêino”,
que jamais fez jus a vida que seu pai adotivo lhe concedera.
Ele fez essas considerações e sacou de uma revista do jornal que diz no
seu epíteto ser “o maior jornal do país” um laptop, abriu e forneceu-me os
links a seguir:
1 –
O Dia
http://odia.ig.com.br/portal/rio/empres%C3%A1rio-%C3%A9-preso-por-matar-o-pr%C3%B3prio-pai-1.231144
&
O Globo
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/07/dono-do-rei-do-bacalhau-e-transferido-para-polinter-e-diz-ser-inocente.html
&
JUSBRASIL
http://tj-rj.jusbrasil.com.br/noticias/2644434/filho-do-rei-do-bacalhau-e-seu-comparsa-irao-a-juri-popular
&
Diário de Notícias - Portugal
http://www.dn.pt/arquivo/2007/interior/rei-do-bacalhau-morto-no-rio-de-janeiro-984832.html
Foi a partir destas fontes que eu pude entender o que ele queria informar e ao cabo das contas, concordo com ele.
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