quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Palavrinhas Sobre "Seu Romildes" - Crônica * Antonio Cabral Filho - Rj

Palavrinhas Sobre "Seu Romildes"
(Foto: blogdoautor)
Conheci "Seu Romildes",
 como aprendi a chamá-lo, nos tempos de seus programas de rádio sobre poesia, junto com Antonio Cerqueira Lima, nas Rádios MEC e Imprensa. Foi ali por volta do final dos anos noventa, quando eu juntava meus bandos subs da periferia pra sair por aí assaltando eventos alheios com recitais penetras, como éramos tratados. É que devido a repressão que se abateu sobre a cultura nesse período, com o fim dos suplementos literários, das revistas culturais, como Escrita, José, Ficção, Inéditos etc, só restou aos poetas irem para a rua e botar as bocas no trombone.
(Foto:Acervo da família)
Numa situação dessas, os programas deles funcionaram como válvulas de escape para a poetada jovem e rebelde, oriunda da poesia marginal da década anterior. Nós fazíamos plantão nas ante - salas das rádios e ficávamos torcendo para conseguir uma chancesinha de falar um poema ao microfone dos seus programas. Aquilo era quase como um "boom" de repentino sucesso para todos nós.
O certo é que quando conseguíamos, saíamos de lá festejando rua afora, tomando vinho barato nos arredores do Campo de Santana, quando não era caipinha caubói na Central do Brasil mesmo. Dalí, nos despedíamos e rumávamos para nossos destinos.
Eu, morava em São Gonçalo, e arrastava comigo uma trupe muito boa de agito, tanto em termos de qualidade poética como de coragem para transformar qualquer local num palco de sucesso. Vou citar aqui, a título de ilustração, o meu amigo Denoir Souza, morador do Bairro Porto da Pedra, bem ao lado da escola de samba. Lá nos reuníamos para planejar novos assaltos líricos, munidos de poemas manuscritos em folhas de caderno. E foi num momento inesperado que tomamos conhecimento do Festival de Poesia da  Porto da Pedra. Marcamos que iríamos "prestigiar" o evento e só esperamos os jurados "cantarem a pedra" sobre os resultados que daríamos inicio a mais um happining lírico, ao estilo heppie dos anos beatlemaníacos. 
"Seu Romildes" e Antonio Cerqueira Lima saíram rumo à capital fluminense e nós ficamos lá com nossos copões de caipvodka noite a dentro. O calçadão da escola ia lotando e, volta e meia, alguém de nós circulava entre os presentes recitando algum poema bem agitativo ao estilo Cântico Negro de José Régio, ou qualquer um de Torquato Neto ou de Eduardo Alves da Costa.
Não posso menosprezar nada do que fizemos. Bem ou mal, o saldo é que ficamos conhecidos. Mas hoje essa alegria se restringe a sentar para tomar um vinho com mais cautela e mais exigências no trato com a poesia, coisa que aprendemos com a dupla de poetas que agitou nas frequências "curtas" ou moduladas muito mais do que nós pelas vias públicas.
No entanto, seja pelas rádios ou nos festivais de poesia das periferias, lá em São Gonçalo, ou em Jacarepaguá com a Casa do Poeta, "Seu Romildes"e Antonio Cerqueira Lima estão marcando presença, agora, nos festivais da poesia eterna de Nosso Senhor lá no Céu. O Cerqueira, como era carinhosamente denominado pelos mais íntimos, partiu com passaporte carimbado em 01/09/2016. Foi adiantar os trabalhos para a chegada do mestre Romildes de Meirelles, que recebeu seu visto no dia 11 de setembro presente.
Ninguém pode fazer ideia da envergadura dessas perdas, que para mim são comparáveis apenas à subtração sofrida por todos com a ausência de um grande agitador cultural dos anos noventa; seu nome:

 Francisco Igreja. Foto:APPERJ
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