domingo, 21 de junho de 2015

Filho Ilustre De São Benedito * Antonio Cabral Filho - Rj

FARIAS BRITO - WIKIPEDIA
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Acabo de chegar ao município de São Benedito, serra cearense, pela segunda vez, em visita aos familiares de minha esposa. 

O lugar é muito agradável, clima ameno, gente hospitaleira, muita prosperidade, bem ao contrário da propalada "seca" dos políticos de olho nos cofres públicos. Observo que trata-se de uma riqueza quase que natural, pois advinda das grandes famílias ligadas a agricultura, pecuária, serviços e comércio de subsistência. Por exemplo, não tem sequer um shopping, e a quantidade de pequenas lojas é imensa. Mas tem uma feira das mais lindas que eu já vi. Fica na praça central, em frente à prefeitura, e ali o povo compra tudo de que precisa e os produtores comercializam cereais, carnes, aves, artesanato e roupa que Deus me livre. Como esse povo gosta de roupa! Bom, minha mulher se encheu de vestidos.

Até agora, uma semana no lugar, encontrei três grandes instituições católicas; Santuário de Nossa Senhora de Fátima, relativamente novo; Igreja de São Francisco das Chagas e Matriz Municipal de São Benedito, o santo padroeiro do lugar, todas construções bem imponentes. Localizei ainda jornais e estações de rádio, mas a que fisgou minha atenção é a Tabajara FM, com uma programação de raiz, não toca nada de fora, que estou seguindo via internet. 

Mas há também bastante organização da sociedade civil, como associação comercial, industrial, transporte alternativo, taxistas, sindicato de professores, de servidores, sede da CUT, de cinco partidos, inclusive PT e PCdoB. E ouvi agora há pouco o barulho do carro de som de um político desejando ao povo boas festas e agradecendo pela sua eleição. Raridade! Resmunguei cá com meus botões. Estou percebendo um misto de alegria com orgulho no ar, com as pessoas ostentando suas camisas da Dilma, com as faixas e galhardetes ainda em seus postes pessoais, carros adesivados com a cara da eleita, e, ao menor comentário, são taxativos: Claro! Aqui é Dilma. Bom, eu não precisava fazer isso pra saber do resultado da eleição aqui, pois desde o primeiro momento da apuração, eu já sabia que tinha dado Dilma. 

Acontece que eu sou o irrequieto, e gosto de fazer minhas próprias pesquisas; por isso saí ruas a fora, com a "fofografeira" no bolso, fotografando tudo que me interessava. Primeiro, a igreja matriz, encantadora; depois a sede da Tabajara FM, que tem ao seu lado, bem na esquina algo que matou-me de realização, a casa onde nasceu um sujeito chamado Raimundo Farias Brito,
CASA ONDE NASCEU FARIAS BRITO
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que fui buscar informações e ver de quem se trata:  Raimundo de Farias Brito, nasceu em São Benedito a 24 de julho de 1862, filho de Marcolino José de Brito e Eugênia Alves de Farias. Fez seus estudos primários em Sobral, mas devido à seca, a família foi para Fortaleza, onde cursou o secundário no Liceu do Ceará, mas foi formar-se na Faculdade de Direito do Recife, onde foi aluno de Tobias Barreto, obtendo o título de bacharel em 1884. Foi promotor e por duas vezes atuou como secretário de governo do estado do Ceará, tendo mais tarde, se transferido para o estado do Pará, onde lecionou na Faculdade de Direito de Belém do Pará, trabalhou como advogado e promotor.Mas uma vez respeitado e tido como autor de prestígio, mudou-se para o Rio de Janeiro, capital federal,em 1909, e venceu o concurso para a cátedra de lógica do Colégio Pedro II. Àquela época, a lei previa que a presidência da República é quem escolhia o candidato entre os dois primeiros colocados, e, devidos aos pistolões do já ilustre Euclides da Cunha, reconhecido pel'OS SERTÕES, acabou preterido. Mas o "Repórter de Canudos" faleceu dias depois, devido a um conflito conjugal, ocorrido no bairro do Engenho de Dentro, vindo então o cargo cair nas mãos de Farias Brito, que o exerceu por toda a sua vida.
Placa do seu centenário
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Buscando saber um pouco mais, posso perceber que Farias Brito é um nome importante no conjunto do que se pode chamar de Pensamento Brasileiro, pois ele desenvolveu pontos de vistas próprios na campo da filosofia.   Inicialmente, caracterizou-se por uma ligação religiosa fortíssima, criticando o pensamento filosófico predominante, ao qual acusa de "dissolvente", e se atira ao embate combatendo o materialismo, a teoria do evolucionismo e do relativismo; e se concentra no concepção de "DEUS, como princípio que explica a natureza e serve de base ao mecanismo da ordem moral na sociedade..." Em suas obras finais, concludentes, seu pensamento se concentra, apenas, na religiosidade, abandonando os enfoques polêmicos e o naturalismo. 

Do meu ponto de vista, Farias Brito tinha medo do pensamento filosófico percuciente, caçador da verdade objetiva, aquela que independe de interpretações de qualquer ordem. Por exemplo, sua oposição a Santo Agostinho, que buscou uma objetividade do espírito frente às coisas materiais, mas sem medo dessa relação, é um exemplo. Por que temer a compreensão do Universo? Basta entender que qualquer compreensão será uma compreensão limitada à capacidade das pessoas que a fizeram, mais nada! Portanto, nenhuma realidade é objetiva ACIMA do entendimento das pessoas, inclusive porque o que EU entendo é diferente do que o OUTRO possa entender.

Mas passadas duas madrugadas lendo sobre o sujeito homenageado com as placas nas paredes daquela casa, levantei-me uma manhã dessas e fui tomar meu desjejum, e eis que chega-me uma prima que é administradora escolar, cheia de "falcudades" e decido lhe perguntar sobre o dito-cujo: Quem é esse Farias Brito, hein prima? Sua resposta deixou-me gelado até agora: "Farias Brito?! Cultura inútil!"

Mas só pra não deixar meus amigos a ver navios, encontrei duas fontes que considero das mais fiéis: Professor Luiz Alberto Cerqueira - UFRJ...http://textosdefilosofiabrasileira.blogspot.com.br/2010/03/farias-brito-e-ideia-de-filosofia.html   --- e BRASILIANAS.ORG http://www.brasiliana.com.br/obras/farias-brito-o-homem-e-a-obra/preambulo/8     Acessem-nos, por favor e nunca chamem ninguém de "cultura inútil", pois o cearense não merece isso e o filho mais ilustre de São Benedito é a prova de que "O nordestino é, sobretudo, um forte!"

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