domingo, 19 de julho de 2015

Zoando Meu Avô * Antonio Cabral Filho - Rj



19 de dezembro foi o dia em que fui à escola retirar o boletim final do Gabriel, meu neto mais velho. Fomos juntos. Caminhamos do Projac-Rede Globo, no Camorim, até lá, Rua Igarapé Açu, no condomínio apelidado como "Espigão", próximo ao RIOCENTRO.

 No caminho tem muitas lojas de plantas com aqueles pátios imensos, todos cheios de flores e plantas ornamentais, mas há uma que tem uma vaca malhada na porta, só para provocar o transeunte a olhar pra ela, e, consequentemente, notar a loja. Seguramente, esse dono sabe fazer propaganda, pois a "vaca funciona". Gabriel corre e abraça a vaca. Lembro-me de que no período entre o primeiro e o segundo turno das eleições, ela estava pintada de verde-amarelo, e, após a votação, ela ficou com a cabeça coberta por um saco preto, em sinal de protesto, pelo menos umas duas semanas. 

Logo depois, encontramos com um cãozinho preto, vira-lata, trotando rua a fora, e Gabriel foi tentar alisá-lo, mas o pretinho deu um bote na mão dele, tão repentino, que meu neto está chorando até amanhã. Caminhamos mais um pouco, onde tem a sede da COBRA-BB. A frente está coberta de faixas da campanha salarial e da greve dos processadores de dados, com um piquetão monstro, dois carros de som, muita música e comes-e-bebes pra rapaziada. Gabriel pergunta se é uma festa, e lembro-me dos "bons tempos da CUT", quando fazíamos piquete "armados até aos dentes", mais miguelitos e coquetéis molotov. Aí eu confirmei para meu neto, "é, é uma festa!" Um pouco à frente, tem um mercado e Gabriel quer comprar sorvete, mas lhe aviso que temos de chegar à escola, senão a tia vai embora e lhe instigo a andarmos mais rápido para não perdermos os beijos e abraços da Tia Cristina. Ele aceita. Na escola foi uma troca de abraços e afagos prolongada. Amiguinhos e amiguinhas se abraçando e se beijando pra matar as saudades e reforçar o retorno às aulas ano que vem. A Professora Maria Cristina, Tia Quistina, para o Gabriel, se levanta, vai ao encontro dele e o pega nos braços. Não tem preço! É a felicidade dele! Rolam beijos e abraços e ela lhe entrega seu boletim, dizendo que é o seu presente de natal para a sua mamãe. Ele pede que eu leve seu "papel", como ele diz, e sai correndo ao encontro da menina com a qual  dançou festa junina. Ela é uma princesinha, de tão linda. Eles se abraçam, aos olhos da sua mãe, que tem o "maior pé-atrás-com-ele!", diz que é o maior garanhão, que a filha dela vive falando nele, querendo ir visitá-lo e o escambau. Saimos da escola e fomos ao shopping, que fica logo depois, rumo ao RIOCENTRO. Eu ia pagar umas contas e fazer um agrado ao moleque. Assim que chegamos, ele saiu correndo, rumo a uma loja de brinquedos, mas eu tinha que passar na CEF, tirar o saldo, pegar dinheiro, pra depois, ir para a loteria. Depois do ritual completo, comprei-lhe um boneco que é só apertá-lo e ele fala. Gabriel adorou. 

Bom, estávamos cansados. Não daria para voltar a pé. Fomos para o ponto de ônibus e ficamos rusgando se pegaríamos van ou busão. Gabriel diz que quer viajar em "ombis" cheiroso, como ele define a limpeza do veículo. Veio um da linha RIOCENTROXPRAÇA XV, e pegamos. Estava limpo e Gabriel ficou todo feliz, fazendo festa dentro do ônibus, alegrando todo mundo. Descemos no cruzamento da Santa Laura com Estrada dos Bandeirantes, Gabriel saiu correndo, atravessou a pista "voando!", e, lá do outro lado da rua, disse-me para pegá-lo. Depois de atravessar lhe disse que se corresse não ganharia sorvete. Aí, ele parou. Entramos na lojinha de sorvetes, sucos e lanches, comprei-lhe um picolé e ele disparou, correndo para casa, dizendo que ia chupá-lo só em casa. Um vizinho lhe perguntou por quê estava tão apressado e ele respondeu: "Zoando meu avô!" e colocou o dedinho sobre os lábios em sinal de segredo; todos rimos, mas não tem preço!   
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