LETRALIVRE
cultura libertária arte literatura
ANO II Nº 18 1997
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LETRALIVRE
Revista de cultura libertária arte e literatura
Ano 12 nm] 47 2007
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LETRALIVRE
Separata Literária nº 1
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MEU DEPOIMENTO
Conheci o Robson através da editora, mais devido ao fator trabalho, como funcionário de distribuidora; nem tanto pela questão ideológica, uma vez que sempre fui marxista.
Desde a adolescência, através de contatos com um grupo de jovens que editava um jornal chamado VENCEREMOS - de tendência comunista, ( ligado à ALN de Carlos Marighela), me vinculei aos estudos de filosofia e ciência política e, através desse pessoal, fui fazer teatro, curso de contabilidade, faculdade de direito, curso livre de jornalismo, e como não podia deixar de ser, as correntes ideológicas, inclusive comunistas, eram postas em discussão e isso permitia que ninguém virasse "vaquinha de presépio" dos grupos políticos dogmáticos, sejam de esquerda sejam de direita. e uma das metas nessa educação político-ideológica era justamente educador o Sujeito para ser livre dos dogmas do mundo político, justamente por pregar um tipo de marxismo contrário a toda forma de dominação e por respeitar o marxismo enquanto farol das transformações históricas por que passa a sociedade humana no seu devir. Portanto, o Anarquismo era tratado como mais uma ideologia no espectro das tantas existentes, que tanto quanto as outras, fazia parte do JOGO para confundir a cabeça do oprimido e retardar a sua tomada de atitude frente à opressão, que como tal, devia ser tratada e combatida junto com as demais, uma vez que atordoa a construção de concepção orgânica.
Logo, a atitude que o Grupo Venceremos passava era a de que devíamos tratar todas as pessoas como passíveis de transformação e trabalhá-las no sentido de uma relação respeitosa em nível pessoal e em nível ideológico, o que nos preparava para construção de alianças em qualquer ambiente politico-ideológico adverso.
Foi com essa filosofia que fui para a vida militar, aonde dei muito trabalho aos setores da repressão, e de lá para a vida civil, me integrando aos movimentos sociais, na convivência com tudo que explodiu no universo das ideologias a partir da abertura política da ditadura, no surgimento do PT, da CUT, do movimento de associações de moradores, das lutas por moradia, por saúde e educação, pelas melhorias nas condições de moradia nos bairros proletários, e não podia ser diferente, também na efervescência cultural advinda nas décadas de 70/80 com o teatro do oprimido do Boal e tantas outras experiências como a de Amir Haddad.
É nesse universo TODO que vou encontrar-me com o anarquismo, com o jornal LIBERA, e através do trabalho em livrarias e distribuidoras, com a Editora Achiamé, do Robson. Sempre que tinha um contato profissional, era Senhor Robson e nas atividades do jornal, era Robson. Eu agia assim conscientemente, inclusive para delimitar os campos entre nós, uma vez que lá na atividade editorial, ele era pra mim um aliado do patrão e lá na atividade politico-cultural, poderia ser um aliado político. Ideologicamente, ele representou, sim, um aliado, e possivelmente conquistável para a causa do proletariado, apesar da postura central do anarquismo de rejeitar a divisão de classes da sociedade capitalista. Mas em relação à pessoa Robson Achiamé, eu, particularmente, nunca vi nem ouvi uma atitude de rejeição por parte de nenhuma corrente ideológica no universo da esquerda carioca. Aliás, ele era referenciado constantemente como Companheiro Robson. E pude constatar isso quando se espalhou a notícia de seu falecimento e ouvi um stalinista dizer: perdemos um companheirão!
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Robson Fernandes Achiamé
1943-2014,
o 1º da esquerda para a direita.
Saiba mais
1 - https://anarquismorj.wordpress.com/2014/11/13/robson-achiame/
2 - https://rizomaeditorial.wordpress.com/2014/11/12/robson-fernandes-achiame-1943-2014/
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