domingo, 14 de janeiro de 2018

Estupradores e CIA - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

Estupradores e CIA
-crônica-
-imagem: revista Rubem-
Antonio Cabral Filho - Rj

Estupradores e CIA

A história dos crimes passionais vem de longe e ao longo de toda sua trajetória sempre contou com a prevaricação do Estado, do mundo jurídico e dos formadores de opinião. Sem esse tripé, nenhum violador da individualidade alheia daria um só passo.

Este é meu entendimento da questão, do alto de meu quinto período de direito e também de comunicação social, mas não sofro a febre do ódio no trato de nenhum assunto. Dito isto, quero registrar algumas palavras sobre o falecido Carlos Heitor Cony.

Senhor K, como foi designado no submundo da espionagem política, sempre serviu ao sistema, trabalhou denodadamente pelo golpe de 1964, fazendo matérias no jornal Correio da Manhã devidamente acusatórias contra João Goulart e cantando na banda de propaganda ideológica anti – brasileira da dita “ameaça comunista”. Circulava rebolantemente nos corredores dos grandes jornais como agitadorzinho serviçal, tomando café, água ou drinks com personas high society ou em coquetéis.
Logo após o golpe comandado pelos milicos, fez um movimento para a platéia tipo mea culpa e passou a escrever contra a ditadura que apoiou. Alegou ter se equivocado. Por isso, foi detido seis vezes pela repressão, mas não se tem notícia, pelo menos até agora, de que conheceu o pau-de-arara, os choques nos testículos, o afogamento nem foi jogado em alto mar pelo PARASAR. Aliás, saiu-se muito bem, fazendo “oposição”, acusando a torto e à direita gente, que como ele, fez-se de equivocada, e ganharam ótimas somas como indenização por “perseguição política” após a anistia.

Daí, entramos no túnel da democratização, mas o Mister K continuou sua trajetória, contraditória, fazendo-se de democrata, aliado a Alberto Dines, Antonio Callado, Rubem Fonseca, Barbosa Lima Sobrinho, igreja católica e cia, até que o movimento operário apareceu em cena e impôs-se contra a cortina de ferro do silêncio na imprensa, mesmo sendo chamado de “agente do comunismo internacional” por toda a “inteligentzia” pro-norteamericana. Daí, desponta Lula, e figurinhas como M. K não podem perder a chance de ocuparem seus lugares na cena: desde o primeiro momento, Carlos Heitor Cony foi um inimigo público dos movimentos sociais, dos sindicatos e dos partidos denominados de esquerda etc. Não apenas através de sua própria opinião, mas sobretudo através de sua prestação de serviço ao sistema – patronal – em suas colunas nos maiores jornais brasileiros.

Tenho certeza de que os “capitães de imprensa” já providenciaram a sua substituição, uma vez que seus serviçais são descartáveis, por outro tão bem servil.

Mas agora mais recentemente, a sua atuação contra Lula – PT e Cia, demonstrou o mesmo quilate do período Pré-64: escreveu e debateu exaustivamente em favor do golpe atual, mas não teve a mesma recompensa de antes. Chegou ao ponto de ser jogado às feras, num debate com Rovai... que o desmascarou frente a frente, diante das câmeras: "“Hoje ele manda Dilma e Lula se fu... na Folha. A velhice não lhe fez aprender nada. Continua o mesmo velho babão da elite e dos patrões que era na juventude”, (Fonte: https://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/222794/Rovai-detona-Cony-uma-vez-golpista-sempre-golpista.htm )

Bom, como se isso não bastasse, uma vez que se trata apenas de sua performance política, um outro viés chama atenção no M.K: creio que, se não todos, pelo menos a maioria, tem conhecimento do crime passional que vitimou Ângela Dinis, levado a cabo por seu gigolô Doca Street.  Vou poupar-me no uso de minhas palavras e deixá-los com a reportagem policial:

Documento 1 –

Nova batalha pela imprensa, semelhante à do Caso Idalina, ocupou os jornais do país – era a primeira vez que se contestava de maneira sistemática a prática do “crime de amor”. Enquanto o advogado Lins e Silva se irritava com a repercussão que, a seu ver, “transformava uma briga entre amantes em acontecimento nacional”, os jornalistas Paulo Francis e Tristão de Athayde (quem diria!...) indignavam-se com os protestos das feministas. Tentando ser racional, Carlos Heitor Cony não rilhava os dentes como seus colegas, mas procurava passar a ideia de que a verdadeira vítima seria Doca Street. Houve revisão do julgamento, e o menino de boa família passou alguns anos (poucos, na verdade) atrás das grades. “

”Fonte:
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/5661_O+QUE+NAO+ESTA+NOS+AUTOS
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Documento 2 –

Acostumado à subserviência conservadora, Lins e Silva, defensor de Doca, revelou seu espanto ante a extraordinária pressão popular que acompanhou o julgamento. O caso teve enorme repercussão não só no Brasil, mas também no exterior, havendo "publicidade nunca vista" sobre este caso, reclamou Lins e Silva (1991, p. 295). Grande controvérsia ocupou a imprensa (Blay, 2003) acirrando-se a polêmica contra os direitos humanos das mulheres. Os jornalistas Paulo Francis e Tristão de Ataíde mostraram-se indignados contra as feministas e suas manifestações públicas que, segundo eles, pré-condenaram o réu; Lins e Silva (1991, p. 295) irritou-se com a repercussão que transformou uma "briga entre amantes em acontecimento nacional". Referiu-se ao "incidente" como se a vítima estivesse viva. Os prestigiados jornalistas e o advogado consideraram ilegítima a pressão da opinião pública nestes crimes contra mulheres justificados pelo amor.
Dentre as matérias publicadas na época, artigo de Carlos Heitor Cony na revista Fatos e Fotos – Gente, assim descrevia o crime:
eu vi o corpo da moça estendido no mármore da delegacia de Cabo Frio. Parecia ao mesmo tempo uma criança e boneca enorme quebrada... Mas desde o momento em que vi o seu cadáver tive imensa pena, não dela, boneca quebrada, mas de seu assassino, que aquele instante eu não sabia quem era (grifo meu).
O jornalista titubeia em sua opinião sobre o crime. De um lado, cita a Promotoria que acusava Street de libertinagem, cafetinagem, e conclui: "Mas outros cafetões, outros libertinos e safados não se tornaram assassinos". Por outro lado, em benefício do assassino, Cony entrevista o delegado Sérgio Paranhos Fleury, que afirma "[...] o único crime respeitável, que não condenaria com rigor, era o passional... Crime passional qualquer um comete, até eu". Cony conclui: "A chamada privação de sentidos provocada pela paixão pode fazer do mais cordial dos homens um assassino".
Fonte:
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Bom, espero que M.K ou Carlos Heitor Cony, um velho agente da espionagem capitalista, descanse em paz e que sua alma, caso tenha fé em Deus, receba os necessários dividendos.

Mas para refrescar os ânimos de quem quer que seja, informo que a imprensa não vive dos seus profissionais públicos e sim de uma multidão invisível que revisa, imprime, distribui e põe nas respectivas contas o soldo de todos os vendidos... É aí que eu entro.

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