quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O Lula, Mas o Lula * Antonio Cabral Filho - Rj

O Lula, Mas o Lula
-metro-15/09/2016-

Nunca perdi meu tempo em escrever sobre um político, logo como Lula, mas o Lula...
É verdade, me tira do sério. Não consigo entender como é que uma pessoa, como o Lula, herdeiro da tradição trabalhista perdida pelo PTB e PDT, se deixa chegar a tal ponto. Ele hoje é padrão de corrupto. Verdade tem que ser dita: ele nunca foi nem será "comunista", pois conta como vantagem as voltas que ele dava nos irmãos vendendo amendoim nas ruas de Santos - podem conferir lá no seu primeiro livro: Lula, o metalúrgico, Editora Nova Fronteira. Ganha do Maluf de décadas exibido pela mídia como o top da corrupção. Todos os vagabundos queriam aparecer ao lado dele porque era sinônimo de esperteza, cara inteligente, senhor de frases de efeito que qualquer pilantrinha da política saia repetindo, tais como "estupra mas não mata", "rouba mas faz" e “Por amor a São Paulo” na coligação com o PT"; respeitado pelos grandes "capos" das máfias e persona indispensável nos banquetes das elites, não só de São Paulo. E nenhuma comemoração da FIESP foi feita sem a presença desse "curinga..." 

Na esteira desse rol, vem a pelegada sindical, tanto cutista como da velha guarda. Desde os tempos de "Joaquinzão" - velho pelego sindical aliado da direita, do patronato e da ditadura-  que o sindicalismo brasileiro só produz vagabundos. Anote aí Luiz Antonio Medeiros e o Paulo Pereira da Silva, o atual Paulinho da Força. No Rio de Janeiro, o quadro não é diferente. A máfia dos pelegos sindicais é tão bem protegida pelos patrões que no início dos anos oitenta a operadora de caixa da livraria em que eu trabalhava atendeu um telefonema e mentiu dizendo que era uma certa "Dona Fulana", chefe do RH. Eu estava embrulhando uns livros para o Professor Leandro Konder, que aguardava ao lado quando ouvimos a voz dizendo "fala pro seu chefe aí demitir esse agitadorzinho comunista chamado Cabral senão nós vamos mandar os fiscais do Ministério do Trabalho passarem ai..." e desligou na cara dela. Nós ficamos rindo na hora, mas logo expliquei que era da "turma do Roma", pelego sindical que sugou os comerciários até se cansar.
O pior é que esse tipo de sindicalismo já era poderoso antes do surgimento tanto do PT quanto da CUT. E o que causa mais revolta ainda é saber que quem esperava pelo nascimento de um sindicalismo essencialmente operário, construído e dirigido por trabalhadores, deu com os burros n'água, como eu. Não posso esconder que tirei do meu bolso passagem e comida não só pra mim para poder ajudar na derrubada de pelegos históricos daqui do Rio de Janeiro, como no caso dos bancários do Rio, dos metalúrgicos do Rio e de Niterói, dos hípicos do Rio, dos médicos do Rio, dos enfermeiros do Rio, e dos rodoviários do Rio e de Niterói. Nunca pleiteei emprego, mas quando eu vi um sindicalista construindo um casarão em São Gonçalo, Rio de Janeiro, eu me perguntei se ele teria dinheiro para aquilo e ao investigar melhor, soube que o "dissídio" tinha gerado um "pro labore" para cada um dos diretores tão elevado que dava pra fazer umas três mansões pra cada diretor do sindicato. Aí eu parei de militar em eleições sindicais e passei a trabalhar só nas organizações de base no sentido de fazer com que os trabalhadores percebam o que andam fazendo os seus diretores sindicais. 
Não demorou, e surgiu o Grupo 113, a verdadeira Articulação, grupo do Lula, e a "inquisição amarela" de perseguição às esquerdas dentro do PT e da CUT resultou na expulsão de todos as correntes políticas que tinham pensamento político realmente centrado na filosofia marxista, diferentemente da dita cuja, baseada na social - democracia e na teologia da libertação. Jamais vou acusar algum dirigente da Igreja Católica de ter influenciado no caminho seguido por Lula & Cia, porque acredito na sinceridade de propósitos de um Frei Beto ou Frei Leonardo Boff, mas não posso admitir que eles tenham se passado por inocentes úteis.
Hoje, quando vemos a situação a que chegaram Lula, o PT e a CUT, dá vontade de esconder a cara. Nem dá pra acreditar que já se tenha vestido as camisas, sacudido as bandeiras e gritado as palavras de ordem que foram referências desse conjunto histórico de forças políticas oriundas do movimento operário e popular surgido contra a ditadura militar, pelas eleições diretas em 1984 e pela constituinte em 1988.
Ninguém que nasceu de 1990 para cá tem como perceber a riqueza em termos de mobilização social, de percepção dos direitos individuais da pessoa humana, da ascensão das chamadas minorias ao cenário da cidadania, da chegada do negro, do índio, da mulher, dos deficientes e dos homossexuais ao patamar do respeito aos seus direitos, até porque toda a mobilização pela conquista desse padrão de cidadania se deu até à promulgação da Constituição de 1988.

Outra coisa que não dá pra entender é por quê o sujeito não se defende. Considerá-lo incompetente, fora de cogitação. Acreditar que ele seja inocente, idem. Mas então por que ele não encara esse tsunami de acusações e desmascara todo mundo de peito aberto? Medo, é sabido que ele não tem. Foi preso e perseguido durante a ditadura militar, curtiu 41 dias de cadeia com a massa na porta do presídio mantendo a mobilização pela sua liberdade, saiu de lá vitorioso, conhece muito bem a fome, tanto por necessidade financeira quanto por necessidade política, com as greves de fome das quais participou e fez tremer o Estádio da Vila Euclides coalhado de trabalhadores com os helicópteros do Exército Brasileiro sobrevoando o local. E mesmo quando perdeu várias eleições, o resultado político da disputa tornou-se vitória moral para ele, fortalecendo-o ainda mais, a ponto de fazer o seu principal arqui-inimigo FHC ser obrigado a lhe passar a faixa presidencial. Qual é o problema? Será o judiciário brasileiro? Eu dispensaria ele, e iria rumo à opinião pública, brasileira e mundial, e afogaria todo mundo com um banho de mobilização de massas, levando este país a mais uma constituinte, com um novo patamar de reivindicações de modo a aprofundar as conquistas sociais.

Mas ressoa em minha mente um ditado: quem cala consente. E se não se defende, tem conta no cartório. Sequer, aprendeu alguma coisa com Maluf e outros nobres da corrupção com os quais fez coligações e alianças. A dissimulação, o cinismo, o bom humor, as piadas espirituosas, tão características da corruptalha brasileira, não lhe serviram de nada. Lembra o aprendiz de feiticeiro, que foi fazer o curso de feiticeiro, tirou dez em todos os exercícios, foi um aluno brilhante, deu exemplos extraordinários, mas na hora da prova presencial, na frente da banca examinadora, quando deveria provar que realmente era feiticeiro, falhou, desapontou os seus mestres, envergonhou os seus colegas, fez a assistência emudecer, e foi obrigado a dizer que, realmente, não era feiticeiro, mas queria tanto, tanto, tando ser feiticeiro, que foi fazer o curso pra ver se conseguia... E, sequer, vai passar ao folclore político com alguma grandeza, digno de ser colhido por pelo nosso folclorista-mor Sebatião Nery.
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