domingo, 7 de junho de 2015

Viação "Seu Barata" * Antonio Cabral Filho - RJ

-Jornal Destak-

Quando vi esta manchete "Estado já tem projeto para mais 10 BRTs entre cidades" no jornal Destak, fiquei meio atônito. Confesso: fiquei. Eu fazia o trajeto Curicica-Alvorada, e como morador desta região, conheço algumas pessoas, famílias, empresas que estão sofrendo humilhações nos corredores judiciários na tentativa de defenderem seus patrimônios, pois o "prefeitinho não tá nem aí pra desgraça alheia" e sai destruindo a casa de todo mundo sem a menor preocupação; ou seja, não vai sair dos bolsos dele... Peguei o jornal e comecei a ler o texto, e veio-me em mente a construção da Linha Amarela, que foi outra calamidade e tem gente AINDA lutando na justiça pra recuperar suas perdas. É quando lembrei-me do tempo das DILIGÊNCIAS, lá nas "oropas feudais", em que cada trecho tinha um Senhor que era o dono das ditas-cujas e ainda cobrava pedágio de quem fosse passar pela sua propriedade. Aí lembro-me dos paus-de-araras, empilhados de gente até nos tetos "pagando" pra circular de um lado para o outro dos sertões brasileiros, seja no nordeste, no norte, no sudeste, além dos carros-de-bois, nos quais eu ainda criança achava "fantástico!" viajar pelo leste mineiro ouvindo o "chouro!" e o carreiro falando com os bois no seu eterno "boi-boi-boi!", e trazendo-me à tona a questão do controle sobre cada região, área, trecho aos quais o transporte de massa sempre esteve submetido. Digo isto apenas para resgatar a memória do transporte brasileiro lá nos interiores do país, mas a meta é chegar aqui na cidade, sobretudo o Rio de Janeiro, que vem da mesma tradição, no qual um Seu Fulano põe lonas sobre um caminhão e começa "puxar gente" de lado para o outro e de repente surge a máxima de que "é dono do trecho". Nem a reforma realizada na década de 1960, com a formação de poucas empresas de transporte resolveu essa pendenga, pois há muita gente que não se adapta em trabalhar em sociedade, compartilhar um negócio, ganhar alguns centavos a menos, ter sócios, isto é, não tem cacife pra ser grande, mas quer ser empresário, e aí vai para as periferias montar biombos com nome de empresa, operar ilegalmente, praticando um serviço de péssima qualidade. Mas vamos ao que interesse: o transporte de massa no Rio de Janeiro nunca resolveu o problema da demanda, sempre com a procura maior que a oferta, a cidade crescendo estrondosamente, recebendo imigrantes nacionais e estrangeiros, expandindo para todos os lados e explodindo em violência. Ou seja, se alguém pensa que favela é paz, não conhece um quartel... Daí vem o "transporte alternativo - conhecido como vans" na década de 90....
-Terra-
Mas se olharmos para a situação dos trens, ficamos gelados, que nunca tiveram qualidade, mas desde o sucateamento promovido na década de 80 com o advento das privatizações, acabou para o futuro e vai de mal a pior, com acidentes um atrás do outro, e cada vez mais graves.
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-SidneiResendde-
As barcas no tempo da CONERJ, empresa pública assim como a CTC, em transporte urbano, nunca foram suficientes, sendo essa desculpa inclusive usada para privatizá-las, mas está aí para qualquer um enxergar, não resolve nada e ainda mata muito mais do que antes.
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jornal Destak-

No mesmo jornal encontro uma notícia "milagrosa": o METRÔ vai se expandir com mais uma linha, ligando Gávea e Santa Teresa. Que maravilha! Mas nos esquecemos de quem é o "dono do trecho!"pois nesse caos imenso dos transportes urbanos de massa do Rio de Janeiro, ao surgir a ideia do METRÔ foi como um sonho. Ufa! Todos pensaram, vai resolver o problema da superlotação, vamos viajar confortavelmente, com ar condicionado, sem pivete vendendo bala nos vagões, sem punguista batendo a nossa carteira, com rapidez e segurança, a preços simbólicos graças à verba pública. Quanto inocência! O METRÔ é só mais uma máquina de gerar grana para um Senhor destes latifúndios, que agora inventou o BRT...
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jornal Destak-
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Mas eu levantei essa bola toda com o objetivo de convidar amigos e leitores a fazermos uma reflexão sobre o Problema do Transporte de Massa no Rio de Janeiro. Não sei se alguém vê com os meus olhos, mas o que eu enxergo é muito preocupante. Espero que todos estejam percebendo que há uma POLÍTICA sendo implementada a partir da articulação dos "Donos do Trecho", ou seja, o empresariado de setor, articulados com a máquina estatal através dos seus políticos, atuando como pontas-de-lanças para a aprovação de seus projetos e garantindo suas aplicações, tendo para isso apenas que reelegerem os seus "bonecos!" Podem observar que o Poder Público, em todas as suas instâncias, não empreende nenhuma ação no sentido de exigir a manutenção e a recuperação dos transportes de massa já existentes. Todos sabemos que o transporte através do trem é mais barato e menos poluente, que as "barcas" são mais baratas e infinitamente menos poluentes, que o Metrô também é mais barato e menos poluente, e estão todos sucateados, mas ninguém providencia manutenção. Portanto, é ou não é uma POLÍTICA em andamento? Por outro lado, se há verbas e vontades políticas disponíveis para a construção de novos meios de transportes de massa, o que impede essa vontade política de se dirigir à manutenção daqueles já existentes? Outra dúvida é por que estender o BRT lá para a Baixada Fluminense, lá para o Leste Fluminense, em prejuízo de estruturas já existentes? Será que não chegam as destruições físicas e psicológicas já causadas à cidade com tantas mega-vias rasgadas no seu corpo a preços incomensuráveis? A destruição ambiental, levada a cabo em Jacarepaguá, com a derrubada de milhares de árvores, plantadas carinhosamente pela população e pelos órgãos paisagísticos da cidade, não representam nenhum dano para esta região? Ah, eu sei que ninguém ignora o "PODER DO SEU BARATA" e acho que faço alguma ideia do argumento fatal contra minhas querelas: cuidar de um corpo doente sai mais caro do que fazer um novo! Mas lhes deixo só uma pergunta: Quantos empregos gera um veículo do BRT?
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