-freepik-
*
Bom, afinal hoje é sábado, e, como disse Vinícius de Morais, "porque hoje é sábado", pernas pro ar que ninguém é de ferro! Levantei-me às seis da manhã, acordei meu neto Gabriel, que acaba de completar cinco anos e mora comigo devido aos des-caminhos dos pais, tomamos uma ducha, vestimos as devidas sungas e cascamos para a praia. Chegamos no Recreio dos Bandeirantes, ou melhor no Canto do Recreio, ali aonde tem a pedra do Pontal de Sernambetiba, eram sete e meia. Largamos tudo na areia e fomos "cair!". Eu, fui nadar um tiquinho, sempre de olho nele, que gosta de desafiar as ondas, mesmo do alto dos seus 90 cm. Depois de festejarmos a chegada, ele ficou fazendo piscinas na beira da praia e brigando com a água por destruir tudo. Não demorou, apareceram mais crianças e iniciaram um piscinão, que quando enchia, alguém era eleito para mergulhar. Ficaram nessa brincadeira durante umas duas horas, quando examinei o celular e vi que eram nove e quarenta. Peguei a garrafa de suco que levei para ele, separei uma tapioca e comecei a comer, não sem provocá-lo para fazê-lo vir comer também. Demorou, mas aceitou e veio comer uma tapioca, tomou um copo duplo de suco e saiu correndo para a beira da água, se juntar ao mutirão da piscina. Nesse instante a piscina encheu e o escolhido para entrar foi uma garotinha parruda, com o biquine enterrado nas nádegas e a molecada caiu toda encima dela, numa algazarra das mais lindas. Afinal, essas crianças ainda são crianças, não veem maldade alguma em cair por cima de uma menina dentro da piscina, todo mundo ali curtindo a sua infantilidade. Mas não demorou e apareceu a mãe, retirou a guria do bolo e levou-a para se banhar, pois estava toda suja de areia. Pode ter certeza e creia no que estou dizendo: a meninada não gostou. Ficou todo mundo chué com a saída da menina. Meu neto foi atrás e brigou com a mãe dela, mas foi rechaçado. Aí aproveitei a deixa e chameio-o para tomar mais banho, nadar, mergulhar e a meninada topou. Foi um momento lindo. Depois, apareceram vários pais, chamando os meninos e a turma se desfez. Meu neto voltou a ficar sozinho e tentei distraí-lo contando histórias sobre os personagens do mar que passam nos desenhos, como Posseidon, baleia, tubarão, até que nos silenciamos e ele ficou fazendo castelos, que a onda vinha e destruía, causando a sua ira contras as águas.
Enquanto escrevo isto, lembro-me da Roseana Murray, que tem um estilo maravilhoso de fazer suas crônicas. Ela escreve quase que um diário e dá um prazer danado em lê-la. Ainda não visitei o seu blog hoje, mas tenho certeza de que vou conhecer mais um pedacinho da Roseana hoje. Ela escreve como se estivesse falando com a gente, de tão íntimo que o texto fica. Vou dar uma navegada pelo facebook, e olha o que eu encontro: o tal de "borsonaro" falando que não estupra uma certa deputada porque "ela não merece!" e me pergunto o que falta pra cassar um verme desses... Saí, pois não aguento.
Agora são onze e meia de um sábado qualquer, mas acabo de chegar da praia com o meu neto Gabriel, que está tomando banho e perguntando se precisa passar sabão. Lógico, grito para ele, e de repente lembro-me da sua imagem sentadinho na beira da praia, construindo castelos que a maré destruía, diante daquela imensidão do mar, num estado de paz tão grande que a minha alma viaja e se reporta aos tempos anteriores à chegada dos colonizadores, quando a minha gente, hoje denominada Pataxó, vivia em paz nos litorais do sudeste deste lugar a que chamam Brasil e ninguém tinha que se preocupar com escroques "bostonaros..."
***