domingo, 13 de setembro de 2015

Notícias Da Cidade De Deus * Antonio Cabral Filho - RJ


Notícias Da Cidade De Deus 
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A "Cidade De Deus" 
ainda não está tão divina quanto todos gostaríamos, mas...

Eu bem poderia fazer aqui uma pseudo - matéria, dizer um monte de mumunhas, encher linguiça, como se diz na gíria jornalística, sociologar à vontade e dar a impressão de ser um jornalistaço, daqueles super - competentes, pronto para aparecer nas telas "grobais"; mas não. Não é isso que eu quero. Tudo que me interessa , hoje, é falar da CDD, da CDD que está "aqui dentro, batendo no peito", onde conheci dezenas de companheiros, todos militantes aguerridos, defensores da sua "comunidade", dos seus vizinhos, da sua família, participantes de muitas dezenas de "vaquinhas", vaquinhas para comprar remédios para alguém carente, para comprar cesta-básica para uma família desempregada, para fazer o enterro de alguém sem recursos, e sempre dando a sua colaboração de modo desinteressado, sem olhar " quem é quem", pois na hora H, somos todos iguais. E continuo tendo esse mesmo prazer em visitar meus amigos da Querida CDD, como fiz nesta última segunda - feira, na minha ida lá nos apês pra ver o meu filho, o meu neto, a minha nora e a amiga Eliane. Depois, saí passeando e passando em várias casas. Fui ver o Nelson, velho metalúrgico de memoráveis piquetes, passeatas e greves melhores ainda, lutas que travamos na batalha pelo pão de nossos filhos. Mas ao sair para embora, eis a surpresa, confira acima.

Encontrei um exemplar do jornal "A Notícia", do Portal da Cidade de Deus, www.cidadededeus.org.br , Ano V edição 10 maio-junho-julho de 2015. Ele estava sobre o banco no ponto de ônibus. Por algum tempo, fiquei olhando, olhando, e pensando cá com meus botões: eu já fiz isso! Lembrei-me do tempo em que para driblar a repressão da DITADURA, deixava jornais em lugares que as pessoas pudessem encontrá-los, como os pontos de ônibus. E é verdade. Já fiz e participei como redator, revisor, repórter, impressor e distribuidor de dezenas de jornaizinhos comunitários, como na favela da Mineira, na Mangueira, no Jacarezinho, em Manguinhos, na Rocinha e, por incrível que pareça: na CDD também. Mas isso foi em tempos de "DITADURA!". Como eu era membro de pastorais católicas, colaborava em órgãos de imprensa de vários núcleos religiosos pelo grande rio a fora, fosse aonde fosse. Ajudava aos meus irmão na organização de atividades, de quaisquer naturezas. Se tivesse que montar uma barraca com estacas fincadas no chão, eu ia para a cavadeira com o mesmo prazer com que ia para a máquina de escrever ou para o mimeógrafo ao produzir um boletim ou jornal. 

Peguei o jornal e comecei a folheá-lo. Achei-o bem feito demais para o meu gosto proletário de militante. Muitas cores, fotos coloridas, diversos tipos de letras, ilustrações desenhadas, margens de páginas muito grandes para quem está habituado a necessitar do espaço para escrever, metade de página ocupada por desenhos, se bem que com ótima intensão, pois as ilustrações refletem os dramas do ambiente, e o melhor foi encontrar vasto noticiário sobre os "trabalhos - projetos" desenvolvidos pela comunidade. Sinceramente, fiquei emocionado, pois em tempos "negros" não teríamos um jornal voltado para uma comunidade contando com tanta qualidade, seja na produção seja na promoção do seu movimento social. Constato a presença do Programa Farmanguinhos - FIOCRUZ, SOLTEC-Ufrj, Associação Semente da Vida, entidade privada sem fins lucrativos, além de conferir a quantidade de pessoas envolvidas no Projeto do Jornal: 34 integrantes! Isso no meu tempo dava pra tomar o poder. 

Mas o melhor disso tudo é que essa galera não precisa utilizar das armadilhas que eu e meus companheiros criávamos para dizer o que queríamos: seus artigos são assinados com seus nomes reais. Seus entrevistados não precisam de clandestinidade devido ao que dizem, não precisam de usar como disfarce o nome de uma pessoa senhora de autoridade blindada por um poder simbólico, como líder de alguma coisa, tipo FAMERJ, FAFERJ, CUT, GRUPO TORTURA NUNCA MAIS, ANISTIA INTERNACIONAL, ARQUIDIOCESE A ou B, bispo isso ou pastor aquilo, só para denunciarmos o que se passava no interior das favelas, pois além da repressão vinda da DITADURA MILITAR, tínhamos ainda os MILICIANOS organizados em Grupos de Extermínio, que contavam com a excelência dos TRAFICANTES, muitos dos quais ganharam pára-ráios de c... dedurando nossos irmãos como COMUNISTAS. Para ilustrar o que digo sobre os entrevistados, quero citar os nomes de Jó Resende, Chico Alencar e Irineu Guimarães, três apenas,  por terem sido exaustivamente utilizados como "entrevistados" só para não aparecermos como os denunciantes daquilo que escrevíamos. Ou seja, "púnhamos nas bocas deles, o que na verdade saía das nossas", ou morríamos e ninguém contaria essa "história...."
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