quinta-feira, 30 de junho de 2016

Crônicas da Lusofonia * Antonio Cabral Filho - RJ

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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Rodeios e Touradas: A Banalização da Tortura - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

Rodeios e Touradas: a Banalização da Tortura

-Facebook-
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Desde a Espanha profunda, dos tempos de El Cid e Dom Fernando, que os rodeios são eventos famosos, seja pelos vaqueiros, pelos touros ou até pelas damas das altas côrtes que os assistem.
 Torturar animais, até à morte, sejam nos rodeios de touros, ou de cavalos, a prática possui adeptos em vários continentes, envolvendo Europa, América e Ásia, levando essa prática a ser categorizada como esporte e executada com requintes de crueldade sem nenhum pudor e sob o aplauso de pessoas consideradas, inclusive, gente culta, a ponto de João Cabral de Mello Neto, poeta brasileiro de grande prestígio intelectual,  tecer epopéias aos seus toureiros espanhóis mais afamados, como Manolo Gonzáles, Pepe Luís, Julio Aparecido, Miguel Báez, Antonio Ordóñez, Manuel Rodriguez, cantado como  “Manolete,, o mais asceta” no seu poema

“Alguns Toureiros

A Antônio Houaiss

Eu vi Manolo Gonzáles
E Pepe Luís, de Sevilha:
Precisão doce de flor,
Graciosa, porém, precisa.

Vi também Julio Aparecido,
De Madrid, como Parrita:
Ciência fácil de flor,
Espontânea, porém estrita.

Vi Miguel Báez, Litri,
Dos confins da Andaluzia,
Que cultiva uma outra flor:
Angustiosa de explosiva.

E também Antonio Ordóñez,
O  Manolete, o mais deserto,
O toureiro mais agudo,
Mais mineral e deserto,

O de nervos de madeira,
De punhos secos de fibra,
O da figura de lenha,
Lenha seca de caatinga,

O que melhor cultivava
O fluido aceito da vida,
O que com mais precisão
Roçava a morte em sua fímbria,

O que à tragédia deu número,
À vertigem, geometria,
Decimais à emoção
E ao susto, peso e medida,

Sim, eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais asceta,
Não só cultivar sua flor
Mas demonstrar aos poetas:

Como domar a explosão
Com mão serena contida,
Sem deixar que se derrame
A flor que traz escondida,

E como, então, trabalhá-la
Com mão certa, pouca e extrema:
Sem perfumar sua flor,
Sem poetizar seu poema.”

Longe de nós ter as pretensões de estabelecer limites a quem quer que seja. Aliás, a “liberdade” é, sem sombra de dúvida, a melhor armadilha para se pegar seus inimigos, pois uma vez à solta, podemos ver o que realmente pregam. E se buscarmos um pouco mais profundamente a práxis dos adeptos a torturar animais, encontra-los-emos vinculados aos regimes autoritários de todas as matizes, capitalistas e pseudo-comunistas.

Portugal só não é líder na defesa dessa violência, porque compete com Espanha e França, mas seus sintomas são dignos de sérias atenções, pois uma mandatária portuguesa, Dona Maria II, proibiu as touradas em 1836 para nove meses depois elas voltarem com força total sob o clamor popular. Outro fato relevante a respeito das touradas em Portugal é a presença da Família Real, com diversos próceres ligados à sua prática e podemos citar D. Sancho II, D. Sebastião, D. Afonso VI, D.Pedro II, D. Miguel e D. Carlos I. Mas D. Pedro II é içado às altas categorias por ser um toureiro “de chão”, aquele que enfrenta o touro a pé, sendo superado apenas por D. Sebastião, que solicitou ao Papa Gregório a revogação da Bula Papal de Pio V contra as touradas. E, assim como Espanha e França, Portugal também conquistou da UNESCO o status da inclusão das touradas como bem imaterial ...
Some-se a isso a audácia de um filósofo francês chamado Francis Wolff  em elaborar um catatau de argumentos intitulados 50 Razões Para Defender As Corridas De Touros,  para engrossar esse caudal grotesco disfarsado em discurso intelectual chancelado pela Universidade de Paris – Sorbonne, em 2011, e a Federação Portuguesa das Associações Taurinas elaborar um documento “didático” intitulado “O que são as Touradas”, ressaltando a sua importância e entregá-lo ao Parlamento Português, na Comissão de Educação e Cultura. 

No continente americano não poderia ser diferente, até porque são países seguidores dos demais, inclusive fruto da colonização, e as práticas em relação aos animais não são novas. Novas por aqui são as entidades da sociedade civil contra a tortura, contra a morte de pessoas imbecilizadas com tais espetáculos horrorosos, que associados às rinhas de galo e as brigas de cães pitbull, só perdem para o teatro ridículo das lutas em rings onde dois idiotas se esmurram em nome de esportes e entidades financeiras à caça de lucros fáceis. Podem verificar que nenhum lutador de modalidade nenhuma finda seus dias com saúde, sequer física quanto mais mental.

E no Brasil....

O Brasil segue à risca a cartilha dessa enxurrada de estupidez. Desde à mais tenra infância, os meninos criados no campo são submetidos a treinamentos brutais para aprenderem a derrubar touros na munheca e a domar burros e cavalos com a brutalidade por excelência.

Não poderia deixar de lado uma passagem da minha adolescência, quando meu pai adquiriu uma mula branca, bem alta e esguia, descendente de muares, pura,  por uma ninharia de cruzeiros, só porque a pobre tinha acertado um coice na cabeça do vaqueiro que a torturava tentando fazê-la obedecer-lhe, e ao pular sobre a cerca de uma manga o infeliz caiu e findou acertado por ela. Ao chegar com a mesma em nosso sítio, meu pai  foi logo me avisando: “essa mula é assassina. Matou um vaqueiro do Seu Chiquinho a coices e não obedece a ninguém.” E mandou-me ter todo cuidado com ela. De cara, peguei um balde, enchi de água e me coloquei bem na frente dela, pensando comigo: “se ela for braba mesmo, não virá beber água por mais que esteja com sede”, mas foi puro engano. Ela olhou-me direto, respirou forte, arfando as narinas, para sentir meu cheiro, me identificando, esticou o pescoço, virou a cabeça para um lado e para o outro, olhou tudo ao redor, mostrando que estava reticente em se aproximar. Então meti a mão dentro do balde d’água e joguei água no meu rosto, enchi a mão e bebi daquela água, sem fazer nenhum ruído, com todo cuidado, foi quando ela se achegou e mergulhou a venta dentro do balde, refrescou-se, jogou água em mim, cheirou-me e passou a beber água com toda sua secura, pois estava, sim, com muita sede.
Rapidamente, o balde de dez litros de água estava quase vazio. Então caminhei rumo ao curral, onde um tanque de água fria estava sempre à espera dos animais e passei a mão dentro dele, para ela ver que tinha mais água. Foi como mostrar o paraíso a quem busca felicidade!

Chamei-lhe de Branquinha. E fui buscar uma bacia com milho triturado e um punhado de sal. Passei uma mão cheia de milho no corpo, para ela comê-lo sujo do meu suor, portanto, com meu odor, para fornecer-lhe a minha persona, depois cuspi dentro do sal, umedecendo-o bem com a saliva e estendi a mão de sal para ela. Primeiro, cheirou. Depois, lambeu até meus dedos. Aí, pensei cá comigo: desde quando um animal é brabo se ele está buscando ser aceito? Após consumir o sal, dei-lhe a bacia de milho e toquei na crina dela, pois geralmente os eqüinos gostam de carinho na crina, que é o seu cabelo, a sua beleza, razão do seu orgulho e amor próprio. Ao fazer isso, ela ficou quietinha, imóvel, sentindo a carícia ao longo do seu pescoço. Então fui pegar a “raspadeira”, uma espécie de escova rústica, feita de lata e fiquei desembaraçando a crina dela. Nesse momento meu pai chegou na varanda de nossa casa e viu a minha intimidade com a “assassina”, como ele disse. E gritou: se afasta! Nem eu nem ela ligamos para o desespero dele, perguntando-lhe se queria ver-me montá-la. Só se quiser ser enterrado ao lado do vaqueiro amanhã, disse gritando meu pai. Aí, eu pus o braço esquerdo no pescoço dela, abraçando-a e acariciando a sua testa com a mão direita. Ao vê-la quietinha, meu pai disse: “que mandinga é essa, o quê que ocê fêis com ela?” e veio na direção do curral.
Tudo isso narrado até aqui durou umas duas horas. Depois disso, eu dei um descanso para ela, fui lanchar, pois era tardinha. Depois, pus cabresto nela, freio, sela, peguei a taca e montei. Ela rodou comigo, como quem pede uma direção. Folguei a rédea e ela saiu marchando. Perguntei ao meu pai: cadê a mula assassina (?) e ele ficou assombrado de vela toda dócil fazendo evoluções de marcha que eu lhe imprimia. No dia em que entrei na cidade montado nela, o fazendeirão poderoso que se desfez dela por medo, ficou estatelado na calçada da sorveteria olhando ela marchar nas mãos de um menino de 14 anos, sem usar esporas, sem bater, sem dar pauladas nela, usando apenas palavras de comando, ditas diversas vezes, para ela se adaptar ao novo treinador.
Mas meu pai tinha que estragar tudo. Disse que eu tinha mandinga com os animais. Que os bichos me obedeciam, que o jacaré mais perigoso das nossas lagoas me carregava para atravessá-las de um lado ao outro, que as cobras dormiam ao se encontrar comigo, que os cães mais ferozes vinham lamber minhas mãos e que ninguém ia pescar junto comigo porque não sobrava peixe pra ninguém, e estreitei a rédea para fazê-la parar  defronte ao estado-maior dos mais ricos da redondeza. Apeei e joguei a correia do cabresto no galho da jabuticabeira, sem amarrar nem nada, e fui beber água, quando ouvi alguém perguntar ao meu pai: quanto quer na mula? Ao voltar, o negócio já tinha sido fechado e fui pra casa na garupa do meu pai, para uma semana depois receber a notícia de que a Branquinha tinha matado o filho mais velho do fazendeiro, partindo-lhe a cabeça a coices. E que tomado de ódio, o fazendeiro descarregou-lhe dois cartuchos da sua Smith Wesson, liquidando a história da mula assassina do Vale do Rio Doce, que atravessava Coronel Fabriciano marchando pelas mãos de um molequinho franzino tido por feiticeiro com os bichos, sempre vestindo camisa branca com São Francisco de Assis no peito.

Deixo aqui este testemunho apenas para dar um exemplo da estupidez que reina na cabeça do nosso povo ao lidar com animais. Podemos observar pessoas da mais alta consideração chegar no bar ou na mercearia e ao cruzar com um cão deitado na calçada, muitas vezes aguardando o seu dono, dá-lhes chutes, expulsando-o do local, como se ele estivesse infringindo algum regulamento social ou coisa parecida e dia desses fiquei muito feliz, quando após chutar o cão Sadan do pedreiro da minha rua, o agressor levou dois socos pela cara adentro que foi sangrar lá no inferno. A isso acrescente-se a covardia daqueles que não gostam de cães e tem a coragem de espalhar “bolas” rua afora de noite, para matar cães e gatos da vizinhança.

Quanto aos chamados costumes brasileiros sobre vaquejadas e rodeios, teria que enumerar a quantidade de bois famosos no folclore, temas de folguedos e autos festivos, de norte a sul do país, do Bumba Meu Boi, do Caprichoso e Garantido e tantos outros exemplos mitológicos, que fazem a gente ficar perplexo. A crônica jornalística traz constantemente narrativas sobre bois assassinos, que mataram peões em plena ribalta, muitos dos quais são temas de cordéis, de músicas, e muitos são chamados de “boi sem coração”, como se alguém pudesse ter coração com seu torturador, mas ninguém, ninguém mesmo, faz música denunciando o “vaqueiro sem coração” que esporeia um boi até levá-lo ao desespero com tantas dores, além do sedem amarrado ao queixo para atormentá-lo com o puxão que sofre ao abanar a cabeça. Diz um site da web que isso é coisa do passado e que o rodeio atual não pratica mais torturas contra os animais de rodeio, mas eu nunca vi um só rodeio sem sangue nem  mecanismos de sofrimento contra os animais. Aliás, a quantidade de bois e cavalos assassinados após matarem seus torturadores já rendeu até canção a um boi que entrou na história: Furacao, o touro assassino. Conheçam... https://www.youtube.com/watch?v=EEVoHMwOOh8  
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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Réi Da Traíra - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

Réi da Traíra


Conheci hoje o mais novo morador do Méier. É um angolano de meia idade com curso superior em agronomia feito em Cuba. Veio parar no Brasil atraído pelo crescimento do emprego no setor do agronegócio brasileiro. Seu contato com tudo isso se deu através dos acordos bilaterais Angola-Cuba-Brasil, que a oposição golpista brasileira chama de Conexão Comunista Dilma-Fidel. Está morando num cortiço típico da periferia carioca, um daqueles casarões antigos, com alguma característica de moradia digna, mas que no fundo-no fundo, era casa de capataz com porão para escravos. Segundo ele, um dos cantos do porão foi transformado em banheiro, para uso coletivo e que se você quiser levar uma “companhéra”, pode sofrer constrangimento.

Bom, cheguei a “tudo isso” porque após descer do ônibus na Rua Guilhermina, parei em um bar, cujo nome pareceu-me Bar do Tchuck, aquele boneco assassino, e perguntei onde ficava um restaurante muito famoso no bairro especializado em camarão e ouvi a expressão o “réi da traíra?”, notando logo se tratar de algum africano das ex colônias portuguesas, e ao fitá-lo, agradeci e puxei conversa. Nosso papo se prolongou sobre Angola, Agostinho Neto – que era médico e cuidou dele e de sua família no meio da guerra de libertação, de Fidel – que ele considera seu segundo pai, por ter trazido ele e centenas de outros angolanos ainda adolescentes para Cuba, posto em escola tipo internato, dado estudo e formação superior, capacitando-o a concorrer no mercado de trabalho em qualquer lugar do mundo, Dilma e o golpe, golpe de assaltantes, segundo ele, que não vê nisso mais do que um assalto típico de marginais à caça de prendas.

 Mas ao lhe indagar sobre o referido restaurante, tive uma incrível surpresa: ele sabia coisas sobre o restaurante além do que apenas como uma casa onde se servia iguarias da água doce. E começou a desfolhar a sua história. Disse que, segundo informa o noticiário carioca de 2007,  o fundador do “réi da traíra” chamava-se Chico da Silva Nunes, era um português, viera para o Brasil há 50 anos, tinha 75 de idade, nascera em Santa Maria da Feira, Portugal, fora sapateiro e dono de oficina, que há 25 anos entrara para o ramo de restaurantes, abrindo a casa rei da traíra na Praia da Pica, Ilha do Governador,  vindo a se tornar referência no segmento, que ficara viúvo há oito anos e tinha um filho adotivo, chamado tonho forjado,  seu algoz. Segundo o mais novo morador do Méier, quem está se deliciando agora com uma iguaria dessa casa, na “verdade está a alimentar  um assassêino”, que jamais fez jus a vida que seu pai adotivo lhe concedera.

Ele fez essas considerações e sacou de uma revista do jornal que diz no seu epíteto ser “o maior jornal do país” um laptop, abriu e forneceu-me os links a seguir:
1 – 
O Dia
http://odia.ig.com.br/portal/rio/empres%C3%A1rio-%C3%A9-preso-por-matar-o-pr%C3%B3prio-pai-1.231144 
&
O Globo
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/07/dono-do-rei-do-bacalhau-e-transferido-para-polinter-e-diz-ser-inocente.html 
&
JUSBRASIL
http://tj-rj.jusbrasil.com.br/noticias/2644434/filho-do-rei-do-bacalhau-e-seu-comparsa-irao-a-juri-popular
&
Diário de Notícias - Portugal
http://www.dn.pt/arquivo/2007/interior/rei-do-bacalhau-morto-no-rio-de-janeiro-984832.html 

Foi a partir destas fontes que eu pude entender o que ele queria informar e ao cabo das contas, concordo com ele.
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domingo, 5 de junho de 2016

Cotidiano Carioca - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

Cotidiano Carioca
- Parte da capa do Jornal do Recreio -
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Cotidiano Carioca - Cônica

Existem dois Rios de Janeiro: o anterior ao Repórter Genilson Araújo e o pós. Essa é uma realidade tão cruel que quando qualquer carioca aficcionado à informação quente sobre a cidade deseja saber das últimas, busca logo a estação na qual ele atua.

Às vezes estamos subindo a “Brasil” e notamos que o trânsito está muito lento, se arrastando rumo à Baixada, naquele ritmo tartaruga, e ligamos o rádio, exatamente na estação em que atua o Repórter Aéreo Genilson Araújo e mais do que rápido recebemos as notícias de como está a situação, seja do trânsito seja da cidade, se houve um acidente ou um confronto polícia - bandido em algum lugar da nossa rota.

Às vezes há um nevoeiro baixo, na primeira parte da manhã, daqueles bem densos, que retêm motoristas de todo tipo, e a cidade vira um caos sob águas, que na maioria das vezes gera um dos maiores transtornos das nossas manhãs. Mas o carioca liga o rádio e recebe a notícia quentinha com uma voz satisfeita, às vezes alegre, que lhe explica as razões do nevoeiro e até como será o seu dia, se terá um raiozinho de sol, tempo nublado ou tempestade. Aí, a maioria dos cariocas saem para o trabalho com aquela sensação confiante, pois foi o Genilson Araújo quem disse, lá dos altos do seu helicóptero da rede tantantam...

Esse repórter aéreo já saiu do anonimato tipo “invisível”. Genilson Araújo, hoje, se for à padaria da esquina de alguma rua da Freguesia em Jacarepaguá, comprar o seu pão para o desjejum, certamente receberá beijos das suas vizinhas e abraços dos mais desvairados tipos, como daqueles vizinhos doublê de “Beijoqueiro” que desejam “aparecer” como amigo do maior profissional de imprensa da nossa cidade; e digo isso sem ofender a ninguém, pois estou falando de um tipo novo de jornalismo, jornalismo quente, em cima do fato, pois o trabalho do Genilson Araújo não é do tipo tradicional, sentadinho numa cadeira, com um laptop à sua frente, digitando, pensando, elaborando frases de efeito, buscando ser ilustre etc. Não. O trabalho dele é embrenhar-se no espaço aéreo da cidade e ir rasgando nuvens até aonde esteja a novidade, e, circulando o seu “Pavão Misterioso”, observa tudo lá embaixo e transmite in loco para os seus ouvintes de plantão ao pé do rádio.

Isso veio se prolongando através dos anos, nos acostumando com a sua linguagem, com o seu estilo altissonante de comunicar os fatos. Mas até então conhecíamos um Genilson Araújo virtual, sem a escultura da forma humana, sem rosto, sem imagem que pudesse nos mostrar quem era a persona, sem um perfil físico daquela personalidade, até que um programa de TV matutino, desses cheios de informesinhos adocicados de toda manhã decidiu chamá-lo para dar um tom mais consistente ao mesmo, e eis que surge diante de nós esse caboclo sorridente, parrudo, afável até no visual, ostentando sua calvície “tipo calo de coxa” e toma conta da audiência. É claro que resultou num tremendo enriquecimento de nosso desjejum informativo.
Infelizmente, não posso dar-me o desprazer de promover uma rede de comunicação inimiga do meu país, a serviço de interesses escusos, mas ela é conhecida pelo barulho de sua vinheta e faz um som parecido com plimplim, e o nome do referido programa seria algo como um cumprimento à cidade na primeira parte do dia.

Quero encerrar minhas digressões sobre o repórter aéreo carioca Genilson Araújo externando a minha satisfação com a grandeza com que realiza o seu trabalho jornalístico, com a energia com que se dedica – ainda – a dar aulas de jornalismo há dezessete anos numa universidade local, com a sua desenvoltura em encontrar tempo para expressar-se por inteiro escrevendo livro sobre sua experiência, enfim, em se dispor a dar entrevista a humildes jornais de bairro, como fez recentemente com o Jornal do Recreio edição número 73 e pelo brilhante trabalho fotográfico que já realizou durante seus vôos cotidianos.
De todas as suas fotos que conheço, a que mais me emociona é esta:
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