quinta-feira, 26 de março de 2015

Discutindo Literatura Projeto - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

NÃO FAZ DEZ ANOS
eu comecei a comprar esta revista nas bancas de jornais, mais pelo interesse em ver se conseguia encaixar um conto, uma crônica ou um poeminha do que  propriamente para SABER DE LITERATURA. 

Ao longo das leituras fui me afeiçoando ao PROJETO: Uma leitura LEVE, que podia servir a uma pessoa comum, a um estudante, bem como prestaria um excelente serviço a um escritor, fosse publicando-o ou fornecendo-lhe um sem número de informações ótimas para produzir algo novo. Cheguei ao número vinte, após inúmeras investidas na tentativa de chegar LÀ, e, quem sabe, meter um texto meu nas suas entranhas, ou seja, ser publicado por ela.Mas o máximo que consegui foi sair na seção de cartas.Matéria de duas laudas sobre Garcia Lorca, virou 36 palavras na seção de cartas...FANTÁSTICO! Não é mesmo?
Nem por isso deixei de continuar lendo a revista. Fui até ao número vinte, como já disse e a "carta" foi no número 13.

Mas eis que um certo dia cheguei à banca e não mais a encontrei. Meu amigo Antonio, o jornaleiro, disse-me "Vou ver se consigo Cabral!" Não conseguiu, e trouxe-me a CONHECIMENTO PRÁTICO:LITERATURA. Agradeci-lhe, mas parei. Não porque o PROJETO tivesse mudado, mas porque SENTI: Alguém dançou! Dei por encerrada minha epopeia de tentar invadir aquelas plagas e fui assoviar noutras freguesias...
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quinta-feira, 19 de março de 2015

Toda Insensatez Será Castigada - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

( internet )
Tá, eu sei que no outono as folhas caem, as árvores ficam peladinhas, nuas com todo seu pudor exposto, o frio castigando a pele frágil, com toda a indiferença do quentão nos lábios da cabocla, ansiosa por um beijo.
Mas nem precisa tanto nem carece ser assim, pegando-nos de súbito, com tamanha insensatez.
Acontece é que, além disso tudo, venho sofrendo reveses estupefacientes. Entre tantos, enumero aqui um que tem me tirado o sono: Um amigo anda desiludido com o nosso ofício. É que ele tem dedicado enormes esforços em prol das artes, e que por não obter o resultado almejado, simplesmente, cai em crise. Resolveu abandonar cargos em entidades culturais e até distribuiu circulares comunicando suas decisões. Mas droga! Ele é músico, cantor, compositor, videomaker, dirigente cultural experimentado, apesar da pouca idade, e escritor dos mais conceituados nas terras de Lobato, tem duas faculdades e um punhado de cursos, já ganhou concursos literários de peso internacional e é editado de ponta a ponta nesta terra de "Benvirá". Aqui pra nós: O que ele quer mais?
Mas o pior é que nesse bojo veio de quebra o encerramento do blog caeseubt e a desintegração de pelo menos duas entidades culturais.
Bom, não vou dedurar aqui o meu "compa". Crises são crises. Algumas vivem enquanto tais, outras tornam-se decisões irreversíveis. Mas o que vem causar-me calafrios é que nesta época de vacas-magras culturais que assola o país, o pior sempre toma a cena e eis que sobe ao palco o Prefeito de Taubaté-Sp, denominado Ortiz Junior e despeja a AVLA - Academia Valeparaibana de Letras e Artes, das dependências do Centro Cultural Municipal. As razões eu desconheço, mas deixo-os com a notícia que colhi no "face" do amigo Luiz Antonio Cardoso...

Publicado em 28/05/2013
A AVLA-Academia Valeparaibana de Letras e Artes, é despejada do Centro Cultural, pela prefeitura de Taubaté, nessa segunda-feira 27.

A Academia surgiu no cenário cultural em uma reunião realizada em 14.02.2001.
Em 24.03.2001 às 13h30 no auditório da OAB -- Taubaté,aconteceu o primeiro encontro com o tema "Saiba porque a Literatura está cada vez mais presente em sua vida". Compareceram cerca de 40 autores.
Em 24.04.2004, a AVLA passou a ser designada como AVLA-Academia Valeparaibana de Letras e Artes, abrangendo Literatura, Teatro, Música , dança e Artes Plásticas ,e assim englobou-se as Letras e Artes.
Ao longo dos anos, a AVLA promoveu concursos Literários, Peças Teatrais, Exposições Artísticas, Saraus, Chás literários , Pizzas Literárias , e Lançamentos Literários.
Transmissão TV Cidade canal 99net/03digital
Reportagem e Edição: André Ferreira
Imagens: Claudia Melo
Operador de VT: Paulo Sergio Souza
Diretor de Geral: Jefferson Melo
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quinta-feira, 12 de março de 2015

Histórias De Negrinho - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ


-grupopaodeacucar-
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Não sei como ocorre com os outros a apropriação de um tema. Sei comigo, das minhas dúvidas interdisciplinares, perguntas sem respostas vindas lá da mais tenra infância, quando via meu pai humilhando empregados da fazenda onde ele era apenas um encarregado sem importância, e eu me inquiria do " por quê " de os outros serem obrigados a trabalharem mais rápido e ele não se dignar a ajudá-los, carregando sacos de seriais também.
Lembro-me que certa vez apanhei porque pusera um saco de milho no carrinho de mão e o levara até ao caminhão para o ajudante jogá-lo para cima. Lembro-me como ele gritou " cê num é ninhum nigrinho! ".
Daí em diante, essa palavra cravou em minha alma e muitas vezes ela queimou o meu rosto, fosse fazendo frete nas feiras livres, fosse virando concreto nas obras, ao ser discriminado por ser um "Nigrinho".
Mas cada vez que tive oportunidade, fui estudando no folclore brasileiro e na história social do país, a presença de casos envolvendo o povo negro, sobretudo as crianças. O mais emblemático deles, para mim, é o Negrinho do Pastoreio, que podemos conferir abaixo...
"O Negrinho do Pastoreio é uma lenda afro-cristã. Muito contada no final do século XIX pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. É muito popular na região Sul do Brasil.
Na versão da lenda escrita por João Simões Lopes Neto, o protagonista é um menino muito negro e pequeno, escravo de um estancieiro muito mau; este menino não tinha padrinhos nem nome, sendo conhecido como Negrinho, e se dizia afilhado da Virgem Maria. Após perder uma corrida e ser cruelmente punido pelo estancieiro, o Negrinho caiu no sono, e perdeu o pastoreio. Ele foi castigado de novo, mas depois achou o pastoreio, mas, caindo no sono, o perdeu pela segunda vez. Desta vez, além da surra, o estancieiro jogou o menino sobre um formigueiro, para que as formigas o comessem, e foi embora quando elas cobriram o seu corpo. Três dias depois, o estancieiro foi até o formigueiro, e viu o Negrinho, em pé, com a pele lisa, e tirando as últimas formigas do seu corpo; em frente a ele estava a sua madrinha, a Virgem Maria, indicando que o Negrinho agora estava no céu. A partir de então, foram vistos vários pastoreios, tocados por um Neguinho, montado em um cavalo baio.1"
Poderia lhes contar inúmeras histórias sobre o "aparecimento" do Saci ou porque só apresentam o capeta como um preto, mas vamos deixar isso pra depois. Quero lhes mostrar algo mais. Como morador de Jacarepaguá, gosto de investigar certas histórias. Daí, fui fazer uma pesquisa sobre a Santa Nossa Senhora da Penna, cuja igreja fica no topo da Pedra do Galo, Freguesia, e venerada como protetora dos escritores e jornalistas. Leiam: "Narra a lenda que um pequeno escravo perdeu de vista a vaca que tomava conta, sendo ameaçado de punição por seu senhor se não a encontrasse. Muito aflito, o menino pediu ajuda à Virgem Maria. Nesse exato momento do alto da Pedra do Galo, surgiu Nossa Senhora apontando para o lugar onde se encontrava o animal desaparecido. O milagre foi presenciado pelo fazendeiro, que, em agradecimento à Virgem, mandou construir a ermida e alforriou o escravo.( Aventura na História de Jacarepaguá, pag 95, Waldemar Costa )"
Vejam como a presença do Negrinho se faz forte na construção do imaginário escravista, apresentando mais uma forma de subjugar o negro desde as suas raízes, a infância. Neste caso aqui, a semelhança com o Negrinho do Pastoreio é total.
Mas tudo isso só vem configurar o modo "natural" de usar o negro como estigma de submissão, da mais escrachada expressão de racismo, evitando expor grandes exemplos da escravidão europeia  anglo-saxônica, que produziram grandes rebeldes, como Robin Hood, conhecido por roubar dos ricos para dar aos pobres, o que leva-me a perguntar "Por que não apresentar um herói branco, que foi submetido por seus iguais? Qual é o problema, é a cor?" E eis que me deparo com a imprensa toda apresentando o mais novo exemplo de escravidão infantil negra, criado pelo grupo econômico que ocupa o quarto lugar na grade dos maiores do continente americano, decorando a área de padaria de suas lojas com a figura de um NEGRINHO: O Grupo Pão de Açúcar.
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sexta-feira, 6 de março de 2015

Notícias De Rilke * Antonio Cabral Filho - RJ

NOTÍCIAS DE RILKE 

* Antonio Cabral Filho

 - Crônicas do Lirismo Imediato -

NOTÍCIAS DE RILKE

Meu primeiro contato com Rainer Maria Rilke  foi através do livro Elegias do Duino. Gosto do livro, até porque no momento da primeira leitura eu acabara de livrar-me dos poemas da Cecília Meireles escritos durante e após sua viagem à Índia.

Minha passagem à leitura de Rilke deu-se basicamente por isso: Pensar que ele fosse místico. Em parte eu estava certo, pois constatei em toda sua temática, ao longo de sua obra, a força dos poemas escritos sobre companheiros mortos, elegias a assuntos religiosos, réquiens por isso e por aquilo etc, mas não foi isso o que me fez esbarrar  com a sua poética, porém, basicamente, o contrário; ou seja, o fator materialista, como ele encara o labor poético.
Ao dizer isto, remeto-me à polêmica anacrônica a respeito da poesia aceitar ou não ser um assunto “sistêmico”, isto é, se ela aceita ou não conceitos filosóficos, enquadramentos ideológicos, aplicabilidades de caracter etc, tais como poesia idealista, materialista, religiosa, amorosa etc e afirmar aqui com todas as letras, que ISSO não me interessa, exatamente por considerar que qualquer tipo de obra estética é fruto do espírito humano e só será “objeto” a partir de uma escolha pelos indivíduos, mais nada.

Após deixar isso registrado, quero convidar a todos para conhecer a poesia de Rilke sem essas maniqueisses, como o faria também com dois grandiosos poetas brasileiros: Murilo Mendes e Jorge de Lima.  Mas o Rilke fez-me refletir sobre isso ( tudo!) por uma questão simples, um poema dele que chamou a minha atenção. O poema fala sobre a atitude dos poetas frente ao mundo, frente a si próprios e frente ao labor poético. É mais um dentre tantas ELEGIAS E RÉQUIENS DO RILKE, onde canta com bravura e fala da tão cantada ”oh velha maldição dos poetas” criticando exatamente a atitude conservadora  assumida , ainda , pela maioria das pessoas denominadas “poetas “ , que ao invés de se lamentarem perante ao mundo, à vida, às questões que afligem ao modo de vida e as atitudes que a tudo dizem respeito, deveriam mirar-se no exemplo da grama que transpõe a pedra e vai buscar o sol lá fora das grades dos jardins.

Na época em que ralava para encontrar informações sobre Rilke, entre os anos de 1978 e 80, me debatia sofregamente para colaborar nos Suplementos Literários, que pipocavam pelo país, mais ocupados em publicar aqueles que lhes dessem maior visibilidade dentre as panelinhas; mas aconteceu algo que eu jamais vou conseguir entender: Um poema meu saiu no Suplemento Literário Minas Gerais.
 
Não sei se o que tomou conta de mim pode ser chamado de EUFORIA, mas eu fui ao jornaleiro defronte ao edifício Avenida Central, na Avenida Rio Banco, 176, e comprei todo o estoque do Estado de Minas Gerais; saí distribuindo aos amigos, na Uff, onde cursava direito; no Curso Santa Rosa, Largo de São Francisco, onde cursei contabilidade, na Escola de Teatro Martins Penna, por onde passei e em todo o ambiente cultural carioca, muito agitado na época pela chamada Poesia Marginal, principalmente pelos Grupos Trote, Nuvem Cigana e Navilouca.

Mas coisa de um mês depois eu fiquei estupefato: Chegou-me um chamado do Correio para ir retirar uma remessa e lá fui eu munido de documentos e apreensões. Ao chegar no guichê, identifiquei-me para a funcionária. Ela foi lá dentro e voltou com um recibo para eu assinar. Era dinheiro e dizia tratar-se de Direitos Autorais sobre a publicação do meu poema Odor Primitivo pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Assinei e saí “explodindo” de felicidade. Eu nunca tinha experimentado uma sensação daquela: Receber Diretos Autorais!

Portanto, era “EUFORIA” sim o que eu sentira ao ver meu poema publicado, e  receber por isso já era demais! Fui direto à Livraria Camões e comprei os livros que eu mais “namorara” naqueles últimos meses e custavam mais de um salário mínimo, mas adquiri a Obra Completa de Rainer Maria Rilke 
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