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Coisa
Séria Meus Amigos
Ontem, de passagem pelo Recreio, fui visitar um amigo treiteiro em
diagramação; chamei-o pelo zape e fiquei sabendo que estava lá na Prainha. Como
é ali perto, combinamos que ele viria rápido para nos entendermos sobre uns
truques.
Enquanto isso, dei uma chegada no Terreirão pra falar com outro amigo
sobre o conserto de duas impressoras. Para lubrificarmos as palavras, fomos ao
Bar do Zé, um ex-criador de gado do local. Ele fez do seu antigo curral um
barracão espaçoso, com o chão forrado de tijolinhos maciços avermelhados,
encheu de mesa e dá-lhe salgados, gelada a rodo e música nordestina. O mais
interessante é que nem o cercado de madeira lavrada do antigo curral ele mudou: mantém o curral do mesmo jeito; só trocou o gado...
Mas não há quem não entre: é para beber água de moringa grátis, com caneca de alumínio; é para tomar uma branquinha do barril ou do litrão; é para comer uma sardinha crocante; ou um pastel de queijo ou de torresmo ou de tripa de galinha e lá vai... Certo é que o Bar do Zé ou melhor o Barracão do Zé não pára. E convidou-me para os forrós nos fins de semana.
Mas não há quem não entre: é para beber água de moringa grátis, com caneca de alumínio; é para tomar uma branquinha do barril ou do litrão; é para comer uma sardinha crocante; ou um pastel de queijo ou de torresmo ou de tripa de galinha e lá vai... Certo é que o Bar do Zé ou melhor o Barracão do Zé não pára. E convidou-me para os forrós nos fins de semana.
Mas durante a minha conversa com o Tuta, meu técnico em impressoras, um
blablablá ao nosso lado nos causou “espéci”. É que dois sujeitos desses tipos
bandoleiros, bem peões de trecho iguaizinhos a esses das obras olímpicas,
vindos ninguém sabe de onde, pra onde vão ninguém quer saber, travavam um duelo
de sangue contra uma matéria num jornal de bairro, aliás Jornal Do Recreio,
sobre um canabiscultor. É que o cara em questão cultiva a erva maldita no
terraço aonde mora, e foi descoberto pela “dura”, o que levou-o à cadeia. Truta
pra lá rolo pra cá, findou inocentado e os dois compas estavam coléricos com o
assunto “ – Onde já se viu, plantar maconha no terraço e ainda ser solto,
inocentado, entrevistado na mídia, promovido a herói e lançar livro contando
estória!” Mas o outro retrucava: “Qué isso Lé! Né tão grave assim não. Vai ver
o dito-cujo é cientista e prova que maconha faz bem”. “Claro! Respondeu o Lé, aumenta
o tabagismo, vende mais remédio, enche os hospitais de tuberculosos, cancerosos
e o que mais?! Isso é um abuso! Só mesmo neste país de bundinhas, aonde um
bonde de playboys dá golpe no governo e ninguém dá nem um tiro! Vai dar golpe
lá em casa, vai!! Vai virar peneiraaaaaaaaa!!!!”
O riso deles se espalhava no
salão e como de praxe ninguém está ligando para conversa de butiquim, até que o
Lé pegou o jornal e saiu mostrando a todos dentro do recinto. Aí alguém gritou
que conhecia “esse safado, esse racista filho da puta, que humilha os
funcionários do condomínio e faz escândalo contra os vizinhos sem razão
nenhuma, sem mais nem porquê.” E outro acrescentar: “Ele mora ali, oh! Naquele
predião ali, é amigo de todo tipo de vagabundo, civil, militar, político,
juiz.. Por isso é que ele foi absolvido. Pranta maconha pra tu vê só...” Aí o
assunto virou uma roda de bata-papo, com um monte de gente sentando a ripa no
sujeito, gargalhando por ele ter sofrido apenas três meses de detenção e
pagamento de 12 cestas básicas para o INCA. “É mole?!”, gritavam, mostrando o
jornal uns para os outros. “Se eu não pagar esta pinga, o Zé manda a “meliça”
atrás de mim, né Zé?!”, escrachava um mulato sujo de cimento. O colega do Lé
argumentava que tá liberado e todo mundo fuma. É no metrô, no trem, no BRT, nos
ônibus, nas praças e daqui há pouco vão fumar “na tua cara” e tu não pode fazer
nada, porque os “home” estão arregados. Só eu e você que estamos por fora...”
Bom, sei que ao sair de lá, fiquei devidamente informado sobre a
história do Gustavo Rossi, o plantador de canabis do Recreio dos Bandeirantes,
que foi inocentado pela justiça com a alegação sustentada por seu advogado de
que 108 pés
de maconha eram para consumo individual, com tudo explicado tintim-por-tintim
no seu livro Jardim Em Chamas. Sua resposta a uma pergunta do jornal sobre
tanta maconha: “Iria fumar tudo aquilo? Ele: Sim.”
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