quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Orquestra de Cabaças - Crônica * Antonio Cabral Filho - Rj

Orquestra de Cabaças
*
Orquestra de Cabaças

Não sei como é a vida de quem nunca vivenciou um golpe, seja do tipo militar, como em abril de 1964, feito pelos militares brasileiros, em nome da moral e dos bons costumes e contra o “comunismo”. Seja do tipo civil-delinqüente, realizado pela nata da corrupção, a serviço do capital financeiro internacional, apátrida e inescrupuloso, a ponto de contratar mercenários da laia de um josé serra servo da vagabungem, de aécio trombadinha cocaineiro neves, de eduardo cunha quadrilheiro evangélico das contas secretas nos paraísos fiscais, de michel temer cabeça de ponte bola da vez, de mágicos fernandos henriques dos clubes secretos de investidores e consortes da ratazanada sedenta por uma migalhasinha das mesadas do imperialismo capitaneado pelos USA de Barac Obama e CIA. Sinceramente, não sei. Não sei como vivem pessoas que se dizem neutras, independentes, alheias, odiadoras da política, mas que estão sempre dizendo que “devemos esperar, dar um voto de confiança ao homem, que devemos pensar no país, parar de viver criticando” e outras idiotices de gente covarde.

Mas sei e muito bem como é a vida de quem sempre teve o lado definido em qualquer conjuntura política nacional ou internacional. Sei como é a vida de quem sempre esteve do lado dos explorados, do lado do seu país, e contra quaisquer interesses anti –patrióticos, anti – proletários, anti – povo, anti – trabalhadores, anti todos aqueles que suam as camisas para ter o pão-de-cada-dia sobre a mesa dos filhos.

Digo isso para chamar a atenção de quem neste momento ESTÁ A FAVOR DO GOLPE, porque está cometendo o mais horrendo dos crimes, está matando os próprios filhos e atirando os cadáveres dos seus antepassados aos urubus, está tomando a mais triste das atitudes e faz isso em nome do combate à corrupção, mas ignorando todo o papel das elites políticas e econômicas, não apenas nacionais, que sempre sugaram a força de trabalho brasileira e as riquezas deste país, sejam aquelas produzíveis sobre o solo, sejam as riquezas encontráveis no subsolo nacional, como o PRÉ SAL.
Faz-se necessário ter em conta de que tanto o petróleo brasileiro, como o pré-sal, são riquezas nacionais, que pertencem ao povo brasileiro, fazem parte do patrimônio desta nação, e que por direito inalienável, não podem ser entregues nem vendidos a nenhuma empresa, seja nacional ou estrangeira e muito menos ao controle externo de governo nenhum, e sequer aos USA. Quem duvidar destas palavras, consulte a Constituição de 1988.

Digo mais, a quem nunca vivenciou um golpe, que ninguém precisa arrancar dente para saber que dói, como também não precisa ter trabalhado em troca do salário mínimo para saber como é a vida do trabalhador; basta verificar o poder de compra daquela quantia no momento exato. Da mesma forma, ninguém precisa ser burguês para saber o que é explorar a mão de obra alheia, apesar de haver muito infeliz dono de uma empreseca que paga tão mal a seu funcionário como qualquer grande grupo econômico, ou o contrário: há muito trabalhador qualificado ou não que se acha patrão, e humilha, maltrata, ofende, e até bate em colegas de trabalho por se sentir poderoso dentro da empresa em que trabalha, ignorando que um processo contra a empresa por maus tratos a um funcionário vai atingi-lo em cheio, quando a mesma tiver que pagar as indenizações pelos crimes cometidos por ele.
Essas questões que estou colocando são o chão sobre o qual avança a passos largos o GOLPE DELINQUENTE NO BRASIL, que começou com o rol de acusações infundadas à presidenta eleita Dilma Roussef e se aprofunda a cada dia com novos atos, cada qual deles mais GOLPISTA, e que exigem uma resposta cada vez mais contundente de todo o povo, independente de partidos, para dar fim a esse caos, mas necessariamente dos mais humildes, de todos os trabalhadores qualificados ou não, pois todos, sem tirar nem por, estamos sob a mesma mira: a miserabilidade total.

Gostaria que observassem os passos do escroto interino na presidência da república, vejam que até agora, só foi recebido com pompas pelo governo japonês, que é um dos insufladores do golpe desde o primeiro momento, junto com USA/Barac Obama e nos demais lugares aonde tentou posar de galã, foi rechaçado. Vide reunião da ONU e dos Países Ricos. Observem também seu comportamento interno, que apesar de toda a sua rejeição pessoal, o seu partido fez a maioria das prefeituras e vereadores nas eleição de 3 de outubro, apesar de todas as denúncias de manipulação da urna eleitoral, que a cada dia a sua rejeição fica mais visível até para seus bajuladores espontâneos – aquelas pessoas miseraveisinhas que não ganham mais do que pé nas bundas e continuam elogiando – o. É patente que a sua política de arrocho já chegou aos bolsos da classe média, que vai pagar mais imposto de renda no próximo exercício, e que o povão em geral vai comer muito menos do que até agora.

Bom, essa política GOLPISTA só tem um pé em que se sustentar: é na fascistização do regime político daqui por diante. Ele terá que fechar a sociedade dentro de um regime de exceção mais do que já está e passar a impor seu estado de sítio, a exigir que a sociedade cumpra as suas ordens, tais como não usar a palavra GOLPISTA, como ele se pronunciou na posse de GOLPISTA OFICIAL, e ditar que todos terão que bater-cabeça para ele quando ele quiser platéia para aplaudir seus discursos de farsante.

Quem não vivenciou esse tipo de coisa, infelizmente não sabe do que estou falando. Claro. Vamos dar um desconto. Baba ovo de GOLPISTA desinformado é um bosta mesmo. Mas eu vou refrescar-lhes a memória, vou contar-lhes um caso de 1964. Nessa época, eu tinha 11 anos e acabava de ser matriculado na escola de meu povoado, construída em mutirão sob as ordens dos golpistas, para dar a impressão de que eles eram a favor de nós, o povão. Faziam discursos de todo tipo, acusando os “comunistas” de nunca terem erguido uma escola para nós. Nos deram material escolar carimbado” Aliança Para o Progresso”, vindo dos USA, ganhávamos cestas básicas com leite em pó carimbado “Aliança Para o Progresso”, livros e mais livros, cadernos e mais cadernos, cartilhas de alfabetização, tudo com o carimbo “Aliança Para o Progresso”. Muito bom, até aí, tudo bem. Qual o problema da origem das doações? Aparentemente, nenhum. Não iríamos ligar mesmo para isso. Mas viriam os resultados: logo começou uma campanha contra os sindicatos, na maioria, de trabalhadores rurais, de que eram insufladores de guerrilhas, de comunismo, de que recebiam dinheiro – ouro de Moscou – da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou seja, eram acusados de serem agentes estrangeiros encarregados de derrubarem o regime em prol do comunismo no Brasil. Os padres que realizavam trabalhos de catequese e alfabetização pelas fazendas a fora, foram todos expulsos da região acusados de comunistas  e em seus postos, foram assentados padrecos a serviço do latifúndio, todos fazendo homilias a favor dos milicos e dos fazendeiros. E passaram  a fazer comemorações de todo tipo para envolver o povo. O calendário cívico nacional, com todas as suas datas comemorativas, passou a ser divulgado na escola e em todas as igrejas, com algumas fazendas fazendo uma espécie de sarau aonde se propagava as datas cívicas, com apresentação de música e poesias. Pasmem! Mas o melhor ficou por conta do sete de setembro de 1964. Ninguém na região ligava para essas datas. Bobagem! Diziam aqueles caipiras mais renitentes. E os puxa-sacos de plantão tinham que encontrar um jeito de fazer uma PARADA digna desse nome, tinham que reunir o máximo de gente, tinham que trazer a criançada uniformizada de azul e branco na frente, feliz e sorridente, todo mundo batendo percussão e tocando algum instrumento musical. Foram arranjados um monte de caminhões cobertos de lona para buscar o povo lá nas fazendas, de repente apareceram professores de música para nos ensinar a tocar para embelezar a PARADA,  a cozinha da nossa escola virou o restaurante da multidão – lanche para todo mundo o tempo todo, a nossa escola virou um acampamento dos mais numerosos que eu já tinha visto, mas mesmo com todo esforço dos GOLPISTAS DE PLANTÃO, os instrumentos musicais foram insuficientes para completar uma banda e foi necessário a criatividade popular, a cultura do povo teve que ganhar o seu espaço e provar a sua superioridade: um mestre de catira bem roceiro, analfabeto até a alma, falou para um PROFESSOR GOLPISTA: nóis pode pô cabaça nessa orquetra? É claro que o dito cujo ficou sisudo, deslocado, sem saber o que fazer dos cascos, até perguntar entalado: “Mas como?” Aí o mestre catireiro respondeu: “Nóis fais a percussão de cabaça e ocêis toca suas cordas...” Refeito do estranhamento, o professor GOLPISTA propôs um ensaio. É aí que eu entro. O Mestre Tião disse ao Maestro Professor Golpista que eu iria trazer uns burros carregados de cabaça e que ele iria treinar a meninada na lida com elas. Assim ficou acertado. Treinamos várias vezes separados, até acertarmos os compassos, aqueles tempos entre um instrumento e outro. Depois fomos ensaiar junto com os instrumentos de corda, de sopro, e sanfonas. No início, só fazíamos a marcação, ocupando o lugar do bumbo, depois na passagem das cordas para os outros instrumentos, nós fazíamos um ripique. Bom, dizer que foi um grande sete de setembro, não. Dizer que foi a PARADA dos sonhos dos GOLPISTAS, também não. É que houve um incidente em que eles viram a sua rejeição: a única parte da apresentação da orquestra na qual o povo se levantou para aplaudir, foi a apresentação da criançada tocando cabaça. Mas sabem por que: os instrumentos grã-finos foram todos colocados nas mãos dos filhos da elite do lugar: os fazendeiros. E como a massa era a maioria, nós arrebentamos.
*

Nenhum comentário:

Postar um comentário