quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O Privatista Feliz - Crônica * Antonio Cabral Filho - RJ

O Privatista Feliz



Ele é brizolista. Do tipo Deus no céu Brizola na terra. E acusa Lula de querer tomar o lugar do seu ídolo. Mas diz que este não tem garra. E que líder tem que ser macho, destemido, capaz de pegar em armas pra defender seu povo. E cita a experiência “de pirro” do restolho de populismo com a formação de núcleos guerrilheiros chamados “Grupos dos Onze” – em que cada unidade compunha-se de 11 sujeitos. Inútil retrucar expondo a fragilidade dessa concepção espontaneista do seu proto-caudilho, que foi tentar fazer da Serra do Caparaó a Sierra Maestra cubana, sem nenhum Fidel e sequer um Chê.  Inútil tentar dizer-lhe que Brizola roubou Fidel e rachou 1 milhão de dólares com seus comparsas tornando todo mundo rico de ontem para hoje, com fazendas em vários lugares estratégicos do Brasil, mantendo acesa a estória de que seriam transformadas em bases da guerrilha e financiando as Ligas Camponesas com Julião à frente para dar um status de algo consistente.

Para se conversar com esse “privatista feliz” é preciso ter saco de papai-noel, escutar cada abobrinha de doer as canelas. Por exemplo, dizer-lhe que os grupos do Brizola estavam devidamente infiltrados de “arapongas” tanto nacionais como estrangeiros soa quase como uma ofensa, lembrar-lhe que um oficial gaucho teve uma diarréia minutos antes de dirigir-se a um compromisso conspiratório é um tapa na cara, ou que o chefe da guerrilha de Caparaó era o único a estar armado no acampamento quando chegaram as tropas inimigas e renderam-no não lhe inspira nenhuma armadilha.  E pra encerrar esse viés do meu interlocutor, recordar-lhe que Fidel batizou Brizola de El Raton, isolando-o politicamente da ótica soviética é um ato de desprezo.

Daí, passamos para o assunto das privatizações, no período Brizola governador do Rio de Janeiro e a seguir. Lembro-lhe que o seu líder “encampou” várias empresas privadas à beira da falência com a desculpa de que iria proteger os interesses dos trabalhadores – Ciferal, no setor metalúrgico e várias do setor de transporte. Refresco-lhe a memória com as indenizações milionárias que os seus donos conseguiram na justiça após a chegada do Moreira, que jogou empresas públicas na via pública das privatizações graças aos escândalos da “era brizolista”. Ele chega a soluçar de raiva do que lhe digo. Mas engole a seco... não consigo dele uma só palavra de concepção crítica das gestões do seu piolho de füher. Mas subitamente desanda a falar e sai defendendo Moreira, Collor, FHC e até elogia Lula, primeiro defendendo as privatizações e depois a abertura lulista às prestadoras de serviço no setor público, inclusive Petrobrás.  Mas quando lhe pergunto algo sobre CEDAE, empresa em que foi dirigente, noto uma série de soluços. E, subitamente, a defesa intempestiva da privatização pura e simples como uma espécie de panacéia para os males da corrupção nas empresas públicas brasileiras. Segundo ele, foi melhor assim. Afinal, ninguém agüentaria uma auditoria, uma abertura de processo realmente conseqüente, uma vez que todo mundo tinha rabo preso, em todos os níveis. Até no funcionalismo, que por ter entrado pelas janelas, não reivindicava nada, não se organizava, não adquiria consciência de sua importância como mão de obra qualificada, nada... sindicato idem. “Vê aí a NOVACEDAE?” É dinheiro público, à disposição do setor privado. O povo só leva fumo! Mas nem reclama. Está sendo duplamente roubado: quando a empresa foi constituída e depois na cobrança do serviço com o qual não empatou um centavo. 

Mas foi melhor assim... ressalta nosso privatista feliz. Em seguida, explica que estatal nenhuma, nunca serviu ao país, ao povo, aos trabalhadores e sempre funcionaram apenas como torneira de desvio dos recursos públicos, sempre roubaram descaradamente, sempre prestaram o pior serviço, sempre foram trampolim para as prestadoras de serviço se criarem e arrebanharem dinheiro e espaço no mercado da sua atividade. “Ta vendo a Petrobrás?” Pode montar quantas Lavajatos quiserem. Nenhuma vai chegar, sequer, próximo da realidade, da dimensão mafiosa montada pelas prestadoras junto com os dirigentes e os políticos. “Nenhuma!...”
Não foi melhor assim?... Finaliza meu privatista feliz.

Mas, privatismos à parte, ele representa um espectro do povo brasileiro hoje, dado o inconformismo com os rumos do país, com tamanha corrupção, com o abandono do patrimônio público à sanha do setor privado, com a decadência política não só dos partidos mas inclusive dos sindicatos, das entidades da sociedade civil, das diversas denominações religiosas, das pessoas em si, enfim... isso explica a nossa apatia. 
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terça-feira, 25 de julho de 2017

Crônica do Soneto Morfêico * Antonio Cabral Filho - RJ

Crônica do Soneto Morfêico


Não sei se todos têm conhecimento dessas mitologias greco-romanas e outras, mas Morfeu é o deus do sono; do sono prazeroso, provedor do sonho, das viagens oníricas e felizes, e Tânatos, deus  do sono feiticeiro, carregado de banzo, cheio de mandingas, cuja meta é dominar alguém para algum objetivo, por exemplo, matá-lo.
Foi devido a essa relação mitológica entre essas duas entidades que escrevi um poema em 2006 intitulado Soneto Morfêico, cujo conteúdo era uma crítica bem ácida contra as formas fixas na poesia. Nessa época eu tinha começado a publicar meu atual fanzine literário Letras Taquarenses e buscava reunir poemas meus e dos amigos que tivessem algum conteúdo fora do trivial, uma vez que a poesia marginal carioca há muito tinha indo para o ralo mercadológico e não restava nada de rebeldia nem contradições sociais, ou seja, acomodação geral... e meu objetivo era continuar incomodando.
Numa das edições do Letras Taquarenses inclui o poema junto com outro intitulado Canto a Ilu-Ayê, o primeiro em forma de soneto e o segundo em versos livres e bem extenso, devido às realidades dos habitantes dos diversos guetos suburbanos das urbis contemporâneas, entre as quais os bairros negros da África do Sul de Mandela.
O fanzine saiu por aí, circulando via correios e eu mandava para qualquer pessoa, sem importar com a estatura intelectual do destinatário. Foi numa dessas que esbarrei com o escritor baiano João Justiniano da Fonseca.
O poema, Soneto Morfêico, por força das circunstâncias, veio a tornar-se um soneto mesmo, inclusive pelas relações com Justiniano. Este, assim que recebeu minha publicação, não parou para respirar. Foi para o computador e largou-me o aço! Confira sua missiva sobre o assunto:
Veja o quarto parágrafo. É o suficiente para medir a verve do missivista. Aproveitei e adquiri o seu livro Sonetos de Amor e Passatempo e resolvi estudar as regras do soneto e meu poema, antes uma mera "zoação", realmente tornou-se um digno poema em forma fixa chamado soneto. Daí em diante nossos contatos se deram em função da publicação da Casa do Poeta, da qual ele já se afastara e dispôs-se a orientar-me para aquisição da mesma. Como percebi as dificuldades dele em ficar respondendo cartas e agradecendo envio de publicações, parei e mantive-me observando-o à distância, por respeito a sua idade e condições de mobilidade.
Mas João não parava. Viajava constantemente para eventos, sobretudo em Sergipe a convite de Ilma Fontes para os congressos da Casa do Poeta de Aracaju.
Seu livro Sonetos de Amor e Passatempo continua comigo,


 agora mais íntimo, uma vez que a Academia Celestial de Letras e Artes - ACLA, está mais festiva, agora que um dos maiores recitadores acabou de chegar.
http://bahiaempauta.com.br/?p=128936 
Confiram as palavras de um de seus netos no link acima.
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