Estupradores e CIA
-crônica-
-imagem: revista Rubem-
Antonio Cabral Filho - Rj
Estupradores e CIA
A história dos crimes passionais vem de longe e ao longo de toda sua
trajetória sempre contou com a prevaricação do Estado, do mundo jurídico e dos
formadores de opinião. Sem esse tripé, nenhum violador da individualidade
alheia daria um só passo.
Este é meu entendimento da questão, do alto de meu quinto período de
direito e também de comunicação social, mas não sofro a febre do ódio no trato
de nenhum assunto. Dito isto, quero registrar algumas palavras sobre o falecido
Carlos Heitor Cony.
Senhor K, como foi designado no submundo da espionagem política, sempre
serviu ao sistema, trabalhou denodadamente pelo golpe de 1964, fazendo matérias
no jornal Correio da Manhã devidamente acusatórias contra João Goulart e
cantando na banda de propaganda ideológica anti – brasileira da dita “ameaça
comunista”. Circulava rebolantemente nos corredores dos grandes jornais como
agitadorzinho serviçal, tomando café, água ou drinks com personas high society
ou em coquetéis.
Logo após o golpe comandado pelos milicos, fez um movimento para a
platéia tipo mea culpa e passou a escrever contra a ditadura que apoiou. Alegou
ter se equivocado. Por isso, foi detido seis vezes pela repressão, mas não se
tem notícia, pelo menos até agora, de que conheceu o pau-de-arara, os choques
nos testículos, o afogamento nem foi jogado em alto mar pelo PARASAR. Aliás,
saiu-se muito bem, fazendo “oposição”, acusando a torto e à direita gente, que
como ele, fez-se de equivocada, e ganharam ótimas somas como indenização por
“perseguição política” após a anistia.
Daí, entramos no túnel da democratização, mas o Mister K continuou sua
trajetória, contraditória, fazendo-se de democrata, aliado a Alberto Dines,
Antonio Callado, Rubem Fonseca, Barbosa Lima Sobrinho, igreja católica e cia,
até que o movimento operário apareceu em cena e impôs-se contra a cortina de
ferro do silêncio na imprensa, mesmo sendo chamado de “agente do comunismo
internacional” por toda a “inteligentzia” pro-norteamericana. Daí, desponta
Lula, e figurinhas como M. K não podem perder a chance de ocuparem seus lugares
na cena: desde o primeiro momento, Carlos Heitor Cony foi um inimigo público
dos movimentos sociais, dos sindicatos e dos partidos denominados de esquerda
etc. Não apenas através de sua própria opinião, mas sobretudo através de sua
prestação de serviço ao sistema – patronal – em suas colunas nos maiores
jornais brasileiros.
Tenho certeza de que os “capitães de imprensa” já providenciaram a sua
substituição, uma vez que seus serviçais são descartáveis, por outro tão bem
servil.
Mas agora mais recentemente, a sua atuação contra Lula – PT e Cia,
demonstrou o mesmo quilate do período Pré-64: escreveu e debateu exaustivamente
em favor do golpe atual, mas não teve a mesma recompensa de antes. Chegou ao
ponto de ser jogado às feras, num debate com Rovai... que o desmascarou frente
a frente, diante das câmeras: "“Hoje ele manda Dilma e Lula se fu... na Folha. A velhice não lhe fez aprender nada. Continua o mesmo velho babão da elite e dos patrões que era na juventude”, (Fonte: https://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/222794/Rovai-detona-Cony-uma-vez-golpista-sempre-golpista.htm )
Bom, como se isso não bastasse, uma vez que se trata apenas de sua
performance política, um outro viés chama atenção no M.K: creio que, se não
todos, pelo menos a maioria, tem conhecimento do crime passional que vitimou
Ângela Dinis, levado a cabo por seu gigolô Doca Street. Vou poupar-me no uso de minhas palavras e
deixá-los com a reportagem policial:
Documento 1 –
“Nova batalha pela imprensa, semelhante à do Caso Idalina,
ocupou os jornais do país – era a primeira vez que se contestava de maneira
sistemática a prática do “crime de amor”. Enquanto o advogado Lins e Silva se
irritava com a repercussão que, a seu ver, “transformava uma briga entre
amantes em acontecimento nacional”, os jornalistas Paulo Francis e Tristão de
Athayde (quem diria!...) indignavam-se com os protestos das feministas.
Tentando ser racional, Carlos Heitor Cony não rilhava os dentes como seus
colegas, mas procurava passar a ideia de que a verdadeira vítima seria Doca
Street. Houve revisão do julgamento, e o menino de boa família passou alguns
anos (poucos, na verdade) atrás das grades. “
”Fonte:
https://www.sescsp.org.br/online/artigo/5661_O+QUE+NAO+ESTA+NOS+AUTOS
&
Documento 2 –
“
Acostumado à subserviência conservadora, Lins e Silva, defensor de
Doca, revelou seu espanto ante a extraordinária pressão popular que acompanhou
o julgamento. O caso teve enorme repercussão não só no Brasil, mas também no
exterior, havendo "publicidade nunca vista" sobre este caso, reclamou
Lins e Silva (1991, p. 295). Grande controvérsia ocupou a imprensa (Blay, 2003)
acirrando-se a polêmica contra os direitos humanos das
mulheres. Os jornalistas Paulo Francis e Tristão de Ataíde mostraram-se
indignados contra as feministas e suas manifestações públicas que, segundo
eles, pré-condenaram o réu; Lins e Silva (1991, p. 295) irritou-se com a
repercussão que transformou uma "briga entre amantes em acontecimento
nacional". Referiu-se ao "incidente" como se a vítima estivesse
viva. Os prestigiados jornalistas e o advogado consideraram ilegítima a pressão
da opinião pública nestes crimes contra mulheres justificados pelo amor.
Dentre as matérias publicadas na época, artigo de Carlos Heitor Cony
na revista Fatos e Fotos – Gente, assim descrevia o crime:
eu vi o corpo da moça estendido no mármore da delegacia de Cabo
Frio. Parecia ao mesmo tempo uma criança e boneca enorme quebrada... Mas desde
o momento em que vi o seu cadáver tive imensa pena, não dela, boneca
quebrada, mas de seu assassino, que aquele instante eu não sabia quem
era (grifo meu).
O jornalista titubeia em sua opinião sobre o crime. De um lado,
cita a Promotoria que acusava Street de libertinagem, cafetinagem, e conclui:
"Mas outros cafetões, outros libertinos e safados não se tornaram
assassinos". Por outro lado, em benefício do assassino, Cony entrevista o
delegado Sérgio Paranhos Fleury, que afirma "[...] o único crime
respeitável, que não condenaria com rigor, era o passional... Crime passional
qualquer um comete, até eu". Cony conclui: "A chamada privação de
sentidos provocada pela paixão pode fazer do mais cordial dos homens um
assassino".
”
Fonte:
&
Bom, espero que M.K ou Carlos Heitor Cony, um velho agente da
espionagem capitalista, descanse em paz e que sua alma, caso tenha fé em Deus,
receba os necessários dividendos.
Mas para refrescar os ânimos de quem quer que seja, informo que a
imprensa não vive dos seus profissionais públicos e sim de uma multidão
invisível que revisa, imprime, distribui e põe nas respectivas contas o soldo
de todos os vendidos... É aí que eu entro.
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