domingo, 3 de maio de 2015

Crônica QRU Das Águas * Antonio Cabral Filho - RJ

QRU CIA DAS AGUAS

Sexta-feira é batizada pelo folclore popular  como dia de pular o muro, tomar mais uma com os amigos, esticar a saideira,  mas fui ao Fórum, ter mais uma audiência com a Cia das Águas. Foi muito engraçada!

Logo que cheguei, encontrei meu advogado saindo da Sala de Conciliação, acabando de ganhar mais uma “questã”, como diz ele. Nos cumprimentamos e fomos sentar para conferir os papéis. Tudo ok, nos pusemos a procurar café, mas a dois reais, valia a pena filar na OAB.

Antes preciso dizer-lhe qual é o meu QRU com a Cia das Águas: É que no local onde moro, não tem abastecimento de água instalado por ela. E como é anexo ao Parque Estadual da Pedra Branca ( que aliás ando procurando, pois só vejo Pedra Negra!), os mais potentados localizam uma nascente e aí constroem um reservatório, instalam canos e se abastecem de água à vontade. Ocorre que essas pessoas, geralmente, têm algum vínculo com o Poder ou são “quiprocós” mesmo, e quem não é nem um nem outro, fica a ver navios...

Assim que comprei o meu imóvel, percebi que a rede de água local “é dos moradores” e não da Cia, uma vez que fui informado apenas que aqui todo mundo estava no “gato”. E, como bom mexedor de pausinhos, procurei levantar quem daqui era ligado aos políticos. Consegui chegar no Seu Mané da Padaria, dono da única no lugar. Aí, de pão em pão, ele foi se entregando, falando quem era o vereador responsável por esta “freguesia”.

Como você sabe, o sujeito que tem política na veia, não consegue ficar de fora, fingindo que não está vendo, ignorando, fugindo da “Hora do Brasil”, e acabei marcando com ele uma visita ao vereador. Ficamos de nos encontrar numa quinta-feira, à tardinha, cinco horas, na Padaria Nobreza, no miolo da Taquara. Tão logo nos falamos, encostou uma caminhonete preta e desceu um dos “Barrão”, pois são dois e irmãos, com uma maleta na mão e se dirigiu a nós. Cumprimentou o Seu Mané e, assim que fui apresentado, fui cumprimentado também e ambos convidados a subir com ele para o “escritóro”, que é uma loja de venda de passagens muito antiga naquele local e funciona no segundo andar. Ao entrarmos na sala, deparei-me com a Tereza Cascão, pulissa e mulher de puliça. Meus botões me fizeram um monte de perguntas, mas depois eu explico. Ela se dirigiu ao vereador como “chefe” querendo saber do que ele precisava, “água e copos!”, foi a resposta, seca. Ela sorriu pra mim, com intimidade, devido aos nossos confrontos em manifestações. Foi à geladeira, enquanto nos ajeitávamos com mesa e cadeiras, pegou os copos com a garrafa e pôs numa bandeja, trouxe e colocou entre nós, perguntando “vai ter baderna?”, dei-lhe uma olhada fria, de cima a baixo, coroada pela resposta do “ome”: “Seu Antonio é nosso amigo!”, ao que ela rodou nos cascos e cambou fora. Não apareceu mais até ao final da reunião.

Foi o encontro com político mais proveitoso de toda minha vida de atuação nos movimentos sociais! Explico por quê: Quando lhe demonstrei a nossa situação, ele tirou da pasta uma folha de papel com o número do protocolo da Secretaria de Obras do Estado autorizando o início das obras de instalação de rede de água em nossa rua com data de quinze anos atrás e disse, olho no olho, que “sem apoio popular, eu não desentoco essa preá!” olhei para o Seu Mané, respirei fundo, e disse-lhes que precisava de um caro de som, pelo menos dez faixas reivindicando água, cinco mil panfletos que “EU” mesmo escreveria, chamando o povo da região e denunciando aquele “descalabro!” e fecharíamos a rodovia principal, o vereador compareceria fingindo total desconhecimento: “Fechado!”, gritaram em uníssono ele e Seu Mané.

Prometo não chatear mais, mas foi sucesso total! Um ano depois da “baderna assistida pela Pulissa Cascão”, foi inaugurado o abastecimento de água no meu trecho, com direito a discursos, comes-e-bebes-etc! E como prêmio, ao invés de água, passamos a receber da Cia das Águas, contas. Isso! Contas! Após enfrentar filas quilométricas, embaixo do sol escaldante de verão, perder dia de trabalho, para obter um serviço pelo qual você quer pagar, o que nos é entregue são contas, cartas do SPC, avisos de corte e o riso debochado de quem faz a lei com as próprias mãos.

Moral da história: Imagina no que deu? Sexta-feira última no Fórum! Sabe o por quê? Assim que as pessoas se cadastram, a Cia das Águas passa a lhes cobrar por um serviço não prestado, mas quando eu vi meu nome no SPC, pensei cá comigo: É tudo que eu preciso! Fui ao advogado e na hora que foi anunciada a nossa audiência, ele gritou “causa ganha!” e entramos. A Cia das Águas enviou dois advogados. Um lia os autos para o outro, que fazia inquirições ao meu advogado, até que se dirigiu a mim, perguntando “como era o abastecimento antes”. Pedi-lhe licença e dirigi-me ao meu advogado, perguntando-lhe “como era uma coisa que não existe, nunca existiu...” Eles apenas riu e disse “data vênia meritíssimo”, pedindo-lhe que anulasse todas as perguntas da “RÉ” por serem improcedentes. O juiz  acrescentou o fato de a Cia das Águas não ter apresentado nenhuma prova técnica em sua defesa.
Deu por encerrada a audiência e saímos comemorando!
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